terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Peço licença ao sofrimento

Era um fim de tarde de fevereiro, Zeca estava sentado em frente a sua casa, no bairro da Cidade Velha. Veio em sua mente, o medo que tinha quando criança em perder sua mãe. Maria Pé de Samba como era conhecida, gastava chinelo todo fim de semana na quadra do Rancho Não Posso Me Amofiná. Para espantar a tristeza, Zeca pegou seu pandeiro, saiu batucando e cantando pelas ruas da histórica Santa Maria de Belém do Grão Pará - "É carnaval é hora de sambar, peço licença ao sofrimento, depois eu volto ao meu lugar".

Clone

Quando escrevo, bebo e danço, me afirmo. Caso apareça um Roberto que não escreve, não bebe e nem dança, denuncie, é um clone mal feito.

Desencontro

Quando todos iam, eu voltava. Quando todos corriam, eu caminhava. Quando todos paravam, eu seguia. Quando eu durmo, milhões estão acordados. Não sou o do contra, eu sou o desencontro.

Morreu duas vezes

Pedro voltava do enterro de Eduardo. No cruzamento da Avenida Brasil com Celso Malcher encontrou Joana com várias sacolas de compras.
- Você não recebeu noticias de Eduardo?
- Para mim ele morreu faz seis meses, disse a donzela.

Acabou o chorare

Manoel descia a Rua da Independência quando encontrou Rufino bêbado, com uma garrafa de cachaça na mão, caído na calçada em frente à casa da Glória Brito. Tentou ajudá-lo, não quis, apenas resmungou:
- Ela não me ama mais.

Folia & Cinzas

Começa na quarta-feira do fogo. Termina na quarta-feira de cinzas. No Pelourinho, Praça Castro Alves, Campo Grande, Avenida Sete, da Barra até Ondina tudo é alegria. São milhões nas ruas da capital da Bahia. Trios elétricos, abadás e pipoca todos em uma só sintonia. O nome disso é carnaval.

Se essa rua fosse minha...

Aquela rua de piçarra, hora agitada, hora pacata, está presente em muitas das lembranças de um tempo feliz onde o futuro confundia-se com o infinito. As pedras naquela terra amarela nunca foram incômodas para nós. A nossa criatividade fizera daquele quarteirão mais que um pedaço de rua. Nosso campo de futebol; nossa entre linhas das queimadas que animavam o fim de tarde; nosso salão de festas ao luar, agitadas por nossas cantigas de rodas e sintonias corporais; espaço de disputa para chutar bem longe aquela garrafa verde de água sanitária e salvar os amigos capturados na pira bojão. 

Era na rua que desafiávamos a física, uns tentando derrubar velhas latas de óleos com uma bola pequena, outros as defendiam com pedaços de madeira, às vezes cabo de vassoura, que carinhosamente os chamávamos de tacos.

As nossas pipas eram exibidas no céu, coloridos papéis de seda e um lindo rabo feito com fitas k-7 sem uso sonoro. Percorríamos ponto a ponto do quarteirão. Nossas linhas enroladas em latas de leite eram jogadas por cima da fiação elétrica, nada era obstáculo para manter no céu nossas lindas rabiolas. Qualquer desaforo era resolvido no ar, o vento e os urubus eram as testemunhas de nossas disputas para ver quem tinha o melhor cerol. Como era emocionante ver a pipa do outro ser levada para longe e a molecada com os olhos de gavião descobrindo o sentido do vento, correndo desesperados para pegar aquele papagaio que não tinha mais dono, nem linha, nem cerol.

Em tempo de copa do mundo, aquele pedacinho da Travessa Tembéns ganhava uma decoração especial. Muros pintados. Tirinhas da cor da bandeira nacional eram penduradas de um lado ao outro. No dia dos jogos do Brasil, todos se reuniam na garagem do vizinho, mas a comemoração do gol era na rua. Todos saiam das casas para comemorar, gritar, bater panelas, fazer a festa. Contudo, era na rua que também brigávamos. Vira e mexe rolava aquele atrito típico dos adolescentes e o lugar certo para resolver tal dilema era lá, na rua. Era lá que também fazíamos as pazes com abraços e apertos de mãos.

Nosso quarteirão também era palco de devoção e fé. Todas as noites do mês de maio íamos com a Santa em seu andor, enfeitada com rosas naturais e um manto azul, andando, rezando e cantando, levar a padroeira dos paraenses a um novo lar. As velas proporcionavam uma iluminação especial e os hinos de louvores um som diferente daqueles gritos emitidos por nós durante nossas animadas partidas de futebol: passa a bola “delegado”; foi falta filha da puta; a bola é nossa...

Também, fazíamos questão em dividir nosso pedaço de chão com os santos juninos. Santo Antônio, São João e São Pedro ganhavam inúmeras fogueiras. Passávamos a tarde catando madeiras e todos queriam fazer a maior fogueira. Todos ganhavam com a disputa, pois à noite, as fogueiras acesas apresentavam um espetáculo sem igual. No meio da rua, juntos às fogueiras, girávamos a vareta com a palha de aço e estourávamos nossas bombas. No fim do ano, era a vez de São Benedito ter passagem garantida com seus fiéis, seus instrumentos musicais e suas bandeiras vermelhas tremulando no ar.

O lado profano também tinha presença garantida. Os bregas do passado como “Por que brigamos”, cantado por Diana, aprendi sentado a beira da rua. Todo fim de tarde, em um cabaré localizado no fim da nossa rua, um alto-falante alumínio tocava as velhas canções que ainda hoje guardo em minha memória. Em algum ano de década de 1990, não estou lembrado o ano exato, a Escola de Samba Paraíso da Alegria iniciou seu desfile quase em frente à minha casa. A escola de samba tinha um enorme dragão como abre-alas, seguido por um carro alegórico onde duas moças, uma loira e uma morena, sem nada para cobrir os seios, dançavam abraçadas em um jovem vestido em uma pequena tanga. A bateria da escola de samba era pequena, mas suficiente para empolgar os foliões que sambavam animados com o ruído da cuíca, a batida do pandeiro e do tamborim.

Lembro o dia em que passei a primeira vez no vestibular, em 1999. Ao gritar minha aprovação no curso de Geografia, na Universidade Federal do Pará, bati com a mão três vezes seguida na rua, agora asfaltada. Outros vestibulares foram comemorados, podemos afirmar que esse quarteirão é o que mais aprova universitários em nossa cidade, é a verdadeira apoteose dos calouros.

No outubro passado, quando estive em Ourém, fiquei olhando a nossa rua e lembrando todos esses momentos maravilhosos. Os adolescentes de hoje não são como os de nossa época, nem em quantidade, nem em qualidade. Algumas coisas permanecem como os espaços dedicados aos santos em maio, junho e dezembro. A copa do mundo parece que não empolga mais, não vi nenhum muro pintado, os políticos ocuparam os muros deixados de lado pela seleção Dunga. O asfalto substituiu a piçarra, cobrindo as pedras, a terra amarela, as marcas de nossos pés, a história da minha geração que hoje passeia pela rua buscando as impressões de um passado não muito distante, que foi capaz de moldar uma concepção de mundo que carrego comigo junto com todas as memórias acima descritas.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Poesia

Poesia, alma, arma
Versos feitos nos lençóis da cama
Que deitastes comigo para não dormir...

Poesia, nome sem sobrenome,
Coisas que não cabem na vida...


Poesia, fuzil, foice e metralha
Da multidão que passa
Tecendo um manto de idéias vermelhas.
Luz, grito e silêncio,
O sol, a chuva,
E a savana indomável de teus cabelos
Que entrelaçam em meus dedos...


Poesia... Dos barracos do morro
As cenas proibidas da “paz civilizatória”
Do preconceito racial da PM carioca...


Poesia, este amor de mim por ti
Que mistura o desejo 
De usarmos a boca para o beijo
E para a revolta
De haitianos, pobres e negros...


E de usarmos o corpo
Como dois espectros nus e suados
Colados um ao outro,
Mas também como escudo
De um partido para revolucionar o mundo!


[R.T]

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Por dentro da câmera escura

A cortina cinza é embalada pelo sopro do vento que passeia pelo fim do dia. Na janela aparece uma mulher com vista para o leste. Sua ida à janela foi rápida quanto à passagem do vento. Mal pude ver o rosto da mulher e seus cabelos pretos. Rapidamente, a moça fecha a janela. A cortina cinza acalma-se sem se despedir do vento. Uma ruptura brusca, tanto quanto a ruptura da mulher com o horizonte o qual não pode alcançar.

Ao baixar a vista, vi uma senhora com cabelos castanhos amarrados e um sorriso solto no rosto. Cercada por pessoas simples como ela, aquela senhora ajudava a revelar, em meio ao cenário artificial da moderna arquitetura, um cenário real e humano. Diferente da mulher do prédio luxuoso, do apartamento decorado com a cortina cinza, essa senhora sentada em um banco de ferro da parada de ônibus, não olhava para o leste, não buscava nenhum horizonte, só queria ir para casa.

Em meio ao congestionamento, carros, motocicletas, bicicletas e seres humanos. Estes últimos passavam despercebidos. A buzina é a pequena notável neste momento. Uns motoristas confundem sua função de alerta. O som emitido não tem o poder de retirar um carro parado à sua frente. Eu tenho muita fé e esperança que um dia os condutores dos veículos irão descobrir a verdadeira função da buzina e, com certeza, os congestionamentos serão menos estressantes. Enquanto esse dia não chega, a ignorância continuará reinando no espaço entre carros engarrafados e o ser humano continuará passando despercebido, no anonimato.

Na pressa da cidade, com seu ritmo acelerado, sempre correndo contra o tempo, as coisas mais óbvias, podemos dizer, as coisas mais simples, são apagadas do nosso campo de visão. O nosso olhar é construído, condicionado a não ver o óbvio. Dois meninos esforçavam-se no sinal de trânsito para serem percebidos. Somente gritar não basta. É preciso gesticular, mais que isso, é preciso apelar ao malabarismo. Assim fizeram, literalmente. Um subia na costa do outro e tentava, em posições e movimentos extravagantes, executar malabarismo com dois pedaços de madeira com as pontas decoradas com fios coloridos. A cada sinal fechado, o espetáculo era executado. Mesmo com a exuberância, o coração gelado do homem individual não era tocado. Poucos tinham sua sensibilidade remexida. Agora eu pergunto: quantos desses que por ali passaram e depois de assistir o show de malabarismo refletiu sobre a vida dessas duas crianças? O que as levou às ruas? O que significa a palavra futuro, ou melhor, a palavra vida para essas duas crianças? Os carros, as motocicletas, as bicicletas passam e seus condutores pensantes já não pensam mais. Enfim, são condicionados a não pensar e sim impulsionados pela pressa de chegar, só não sei onde. Até agora o ritmo imposto tem nos levado a lugar nenhum.

Segui meu percurso dentro da câmera escura procurando ver o mundo que me cerca de uma outra forma daquela imposta pela sociedade da individualidade e do coração gelado. Procurei ver coisas as quais sou impedido de ver, analisar e compreender. Busquei captar cenas, imagens e momentos com outro foco. Descobri que podemos sim ver o mundo para além da pressa, do ritmo acelerado, dos carros engarrafados, da buzina irritante.

Pare um dia. Entre na sua câmera escura. Escolha as verdadeiras imagens do seu mundo. Garanto a você, este é um bom exercício.

domingo, 18 de julho de 2010

Você está em CaZuZa

17 anos de vida.
Mas, não estou perdido,
Sei onde está o meu umbigo
E onde mora o inimigo.
Sei com quem quero juntar os trapos

Com essa Mulher Vermelha,
Esse vermelho sangue
Que mancha o branco do dente
E vai parir um novo filho
Sem o homem-níquel

Mas posso também casar com teus homens
Porque no teu balaio
Só não vale ficar parado.

Vou te deixar virada,
Saia desta vida de migalhas
Desses homens que te tratam
Como um vento que passou
Deixa eu te levar então
Pra onde eu sei que a gente vai brilhar,
Em Citté Soleil ou em Gaza, lá é tua praça!

Você pode até se demorar a me encontrar,
Mas aos 50, eu tenho apenas 17
E ainda estou pintando o sete
Mas se você achar
Que eu tô derrotado...
Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta
Eu vejo o futuro repetir o passado
E sou capaz de ferver na tua boca
Cravos e Maios
E uma nova Primavera de Praga
Eu posso: um ano de 89 mudado!

Minha sede de viver é uma ameaça atômica
Capaz de fazer aquele garoto que queria mudar o mundo
E ficou em cima do muro,
Pular nos teus braços, sem medo, sem cansaço!

Por que você me olha com esses olhos de loucura?
A burguesia fede
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia
E quando nos sobrar só à pele,
As ruas serão tuas, Mulher Vermelha,
Tua grinalda é esta bandeira sem fronteira
Nadando contra a corrente...

Me dê de presente o teu bis
Outubro que sempre quis
Me dê de presente o teu bis
Outubro que sempre quis

Vem ouvir Cazuza comigo
Para ele nos ensinar
Que os perigos dos jornais
Não estão nas páginas policiais
E que não é a doença que faz o doente,
E que o inverso é a cura, é a luta:

Vamos pra rua
Vamos pra rua
Vamos pra rua
Vamos pra rua

A Cazuza eu só pediria:
“Imagine no possessions” (imagine não existir posses)
Não me surpreenderia se ele conseguisse,
Porque o “bom burguês”
Foi o único erro de sua poesia!

[R.T]

______________________________
Homem-níquel: Adequação de Burguês-níquel, de Ode ao Burguês de Mário de Andrade

Músicas usadas: Mulher Vermelha, 17 anos, O Tempo não pára, Burguesia, Lobo mau da Ucrânia, Preconceito, Pro dia nascer feliz. E uma frase da popular Imagine de John Lennon: Imagine no possessions.

Em, “... um novo filho...” – Filho – faz uma apologia ao Estado, que é produto da disputa entre as classes, portanto, filho dessas, essa construção foi de Atnágoras Lopes que escreveu em uma poesia de sua autoria.

sábado, 26 de junho de 2010

A cidade

O tempo controlado pelo semáforo. Habitantes sem referencias. Andar apressado. Olhar distante e frio. Tudo era diferente, estranho e novo para um menino que acabava de chegar do interior.

Sua visão de cidade quase homogênea, onde todos se conhecem por nome, onde fazem rodas de conversas na portas das casas, é bruscamente substituída por um ritmo onde as pessoas perdem a identificação com o lugar e com as outras pessoas.

O menino que gostava de andar descalço, sentir o chão frio de sua casa e terra fina do seu quintal, aquele que subia em arvores, assistia a dança das folhas ao embalo do vento, foi morar num edifício de 22 andares, no apartamento 804. Adeus quintal, arvores, pés descalços. Os costumes são outros. Dois elevadores transportam pessoas, as quais nem olham nos olhos das outras. Poucas falam bom dia/boa tarde/boa noite. Quando falam é mais por educação e não por intimidade. É o verdadeiro estar sozinho no meio da multidão. As relações são marcadas pela ausência da comunicação.

Aquele menino, ainda perdido no processo dinâmico da grande cidade, buscou manter traços de seu passado. Às vezes, ia descalço ao supermercado. Os olhares estranhos começavam no elevador, seguiam pela rua e terminavam no supermercado. Com seu jeito moleque, levava tudo na brincadeira.

Aos poucos, o guri da cabeça grande, começou a viajar no mundo numérico: casas, edifícios, andares, elevadores. Buscou inserir-se no novo ritmo, no novo tempo. Passou a acordar com o barulhinho do despertador – pi, pi, pi – o velho galo já não o acompanhava mais na madrugada com seu cantar. A vida passa a ser controlada pelo uso do relógio. Hora do banho, do café, tempo certo para chegar à parada do ônibus. Qualquer descontrole tudo fica fora do lugar. O tempo passa a controlar o cotidiano daquele menino que há alguns dias atrás tinha uma outra concepção de cotidiano e de tempo.

O estranhamento aos poucos foi deixando de ser obstáculo e passou a ser um desafio, algo ser superado, confrontado, descoberto, apreendido. Passou a cumprir o papel de mola mestra. Um impulso que levou o menino dos pés descalços a encontra-se com as grandes avenidas, movimento de carros e pessoas, o agito que a primeira vista parece um caos, mas que ao ser bem analisado revela uma sincronia nos movimentos.

O menino não se contentou com a visão estática da paisagem. Viajou para além das aparências e buscou compreender a máquina e suas componentes. Aos seus olhos, a metrópole tornou-se um espaço de revelação. Ganhou nova forma, nova dinâmica, novos conteúdos. Sua relação intrínseca com a cidade revelou seu amor por Belém (Pará) e pela geografia.

Papel em branco


Máquina de escrever
Papel em branco
Versos que não vem
Papel em branco


Caneta, tinta, tinteiro
Jogo de palavras
Um só fim
Nenhum começo
Papel em branco


Lápis
Outro lápis
Lápis a mais
Versos a menos
Papel em branco


Mente vazia
Coração palpitante
Voz presa na garganta
Sorriso amarrado nos lábios
Beijos algemados na boca
Papel em branco

sábado, 12 de junho de 2010

Do ponto de partida ao ponto de chegada

Gente, muita gente. 7h da manhã. Horário de pico. A placa informativa percurso centro aglutina um número maior de pessoas ao seu redor.

Rostos variados, brancos e negros. Velhos e novos. Todos de uma só classe, a trabalhadora. Uniformes diferenciam estudantes e trabalhadores, mas o ponto de partida, a placa indicadora, não diferencia ninguém. Todos esperam o mesmo ônibus. Uns mais ansiosos que outros. Uns mais preocupados que outros. Não sei se a preocupação era por atraso ao trabalho e/ou estudo, ou simplesmente, pela batalha que logo seria travada – brigar por um assento – afinal, o número de pessoas era superior ao número de bancos daquele ônibus branco com linhas laterais azuis e vermelhas.

Eu também entrei na briga por um lugar ao sol, leia-se, por um banco no ônibus. Acho que por sorte, a porta traseira parou em minha direção. Aí, caminhei ao seu encontro. Está certo, vou confirmar, levei um empurrão básico ao subir, pois se não tivesse levado não teria graça. O mais importante, saí vitorioso na briga. Conseguí sentar.

Infelizmente, dezenas seguiram o percurso em pé. Isso já é vantajoso. Outros não conseguiram entrar. A lei da física é clara, dois corpos não ocupam o mesmo lugar. Assim, os derrotados na batalha matinal ficaram no terminal a espera do próximo round.

Sentei no primeiro banco logo após a porta, na penúltima fila. Pela janela vi a agonia de uma derrotada. Ela não tinha chance nenhuma de vencer, mas lutou. Carregava consigo uma caixa branca com letras azuis que antes guardara um ventilador. Como não estava com a minha “espada justiceira”, sem a minha “visão além do alcance”, não posso afirmar o que tinha dentro daquela caixa. Uma coisa posso dizer, não era um ventilador. O esforço que aquela mulher de rosto cansado fez para deixar a caixa ao chão demonstrou isso.

Além da caixa branca, aquela senhora derrotada no primeiro round, carregava dois rolos de corda de cor marrom amarrados com um fio branco, um aro de bicicleta não muito brilhoso e duas crianças, assim como ela, negras. Sem entender muito a batalha, as duas crianças ajudaram a mãe a colocar os dois rolos de corda e o aro da bicicleta sobre a caixa branca com letreiros azuis.

Aquela mulher qual não sei a idade, muito menos o nome e o endereço, olhou para o ônibus, depois para seus pertences (incluindo os filhos) e pensou. Não sei o que ela pensou. Mas pelo mover de seus lábios falou aos filhos:

- Fiquem aqui.

Em pensamento deve ter concluído:

- Daqui a meia hora vem outro.

E assim esperou. Não sei em qual round aquela mulher, que não tem cara de Maria, venceu a batalha. Não sei que horas chegou ao seu destino. Nem sei se chegou.

Durante o percurso os passageiros foram descendo. O ônibus lotado foi esvaziando-se. Eu e mais quatro passageiros, um homem e três mulheres, chegamos ao final do trajeto. As cadeiras cinzas, antes bastante disputadas, agora sem passageiros. No terminal do Centro de Aracaju estava marcado um novo round. Agora o ônibus fazendo seu itinerário inverso, com novos gladiadores e os mesmos juízes (o motorista e o cobrador), ambos com o mesmo uniforme – camisa azul, calça e sapatos pretos. O que os diferenciava eram as posições que um cada ocupava no interior do ônibus e o nome que exibiam nos crachás.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Colorir


Colorir é desfazer o preto e branco do teu retrato
É navegar nas cores vivas dos teus lábios


Colorir é criar um verso
Que rodopia no vórtice letal da tua retina

Colorir é desafiar teus beijos
E singrar teu corpo por inteiro

Mas, colorir é dissimular
Ao te encontrar

E colorir um verso é mentir duas vezes
Uma por me fingir nas cores
Outra por te fingir nos versos.

[R.T]
- 2003 -

Enquanto durmo...

Lábios na cor do meu batom,
Teu riso no compasso de minhas horas,
Teu calor no meu colo,
Teus olhos no meu escuro,
Teu hálito enquanto durmo...

É amor,

Enquanto durmo...

[R.T]

Eureka

Eis a razão da mentira:
a boca nem sempre repassa
o que o ouvido capta.
E ainda que sejam dois ouvidos,
a boca que mente ignora.

Eis a magia da verdade:
recriar o homem com uma centena de orelhas,
aas deixar-lhe uma única boca,
aara evitar a desgraça
de uma boca desmentindo a outra!

         [R.T]

terça-feira, 25 de maio de 2010

Lançamento

Aquele passe parabólico
Que o meio-campista
Lança ao ataque o time inteiro,
Faz mágicos dribles no ar
Gravitando a caminho do gol
Enganando a defesa,
Acelera,
Desacelera,
Acelera,
E cai...



Nas costas, antes do giro da zaga,
Rápido como um gole de cachaça.
Tão bom,
Que depois que dispara o atacante,
Um leve toque,
Desfaz a parábola em reta
E cruza lentamente a meta!

[R.T]

Com frases de Belchior

“... Ainda sou estudante da vida que eu quero dar...”
Mas eu preciso acreditar,
Porque “o encontro da revolução com a história”
Não é uma coisa casual

É um flerte de muitos invernos de 1905
Como um ensaio geral.
Mas eu preciso acreditar...

E enquanto houver
Espaço e tempo, contra a corrente
Vou levando o que eu quero dar

“... Eu tenho vinte e poucos anos de América do Sul...”
Mas eu preciso acreditar
Que vou aprender a dançar

Para receber aquela dama
Que não tem nenhum amigo
Fora de seu vestido vermelho

Mas eu preciso acreditar...

Porque não dei a sorte de nascer
Naquele outubro,
E ainda sou promessas de lindas primaveras
Que eu quero dar...

“... Eu sou apenas um rapaz latino americano...”
Que vive entrando pelo cano
Porque não sabe acompanhar aquele canto
Que uma folia russa
Nos ensinou a pular ...

[R.T]

sexta-feira, 14 de maio de 2010

aveSSo...


[R.T]

meu olhar

Meu olhar
É quando em ausência do teu
Um palco de teatro sem platéia,
Sem um espetáculo importante,
E seus atores ficam ocultos
Numa cortina de cílios
Sem uma peça...

Um cristalino opaco
Onde as lágrimas são aplausos

[R.T]


cuidar-Te

Não quero deixar-me cair
Sobre teu corpo
Mas quero pesar em teus lábios
Toda fome que me devora

Réu apenas de cuidar-te
Como trata do pomar
O agricultor que dele leva o fruto
Sem arrancar raízes

Não quero as sentenças,
As metamorfoses da intimidade,
As agruras do tempo,
Quero apenas cuidar-te

Cuidar... Sem os ciúmes deste verbo
Quero beijar-te
E arranhar teus pulmões de suspiros
      Quero cuidar-te no colo
E repousar no teu ventre
O hálito preso nos dentes
Cuidar-te...

[R.T]

quinta-feira, 13 de maio de 2010

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Sábado

Sábado é sempre uma promessa
Colorida de futuros
Conjugando batons vermelhos
Numa boca qualquer


Como um rádio
Sintonizando saudade,
Sábado é uma FM
De freqüências lascivas


Todo sábado
É  um poema de Brecht
Suando em suas rimas as revoltas das minas
E das pedras palestinas


Sábado eu me prometo descanso
E me descubro cansando...
Sempre aos sábados...
Eu como do mesmo prato
Com ainda mais fome
De estar em teus braços 
                                                                                                       
[R.T]

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Um século de amor

O sapato preto brilhoso que cobria seus pequenos e singelos pés de tamanho número sete foi a única lembrança que ficou de minha amada. Quando voltávamos de nossa lua de mel perdi o controle do carro, a forte chuva e a estrada mal conservada contribuíram para o acidente. Em segundos, vi a linda face de meu amor ser possuída por um susto e um desespero nunca antes visto. Seus olhos vermelhos perderam seu forte brilho. A partir daquele momento permaneceram fechados para sempre.

Aquela linda morena, com 1.50m de altura, pés pequenos, com apenas 30 anos de idade, que acabara de dividir uma noite espetacular comigo, não respirava mais. Seus pulsos não pulsavam. Seu coração não batia. Por um instante, lembrei do primeiro dia que a vi, abaixo da Linha do Equador, radiante como o sol equatorial que clareava Belém do Pará. Sua sensualidade me conquistou com o rodopiar de sua saia florida aos passos do carimbó. Quando dei por mim, não escutava mais sua voz, a menina tagarela, aquela que falava sem parar, em poucos minutos calou-se para sempre.

Hoje, estou em Madri, na Espanha, como tínhamos planejado. Sem a sua presença, o vazio, acompanhado da saudade, guia a minha vida sem sentido. Ao passar no centro histórico de Madri, viajo no tempo e remeto-me a nossa lua de mel em São Cristóvão, uma bela cidade histórica sergipana. Na janela da pousada, ouvíamos a voz inconfundível de Moraes Moreira cantando “Três Meninas do Brasil”. Mas a menina que mais amei não está aqui comigo. Porém, tenho certeza, onde estiver Raquel continua sentido meu amor, pois é verdade, o que bom dura pouco, mas o que é verdadeiro dura um século.

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Universidade Federal de Sergipe
Comunicação Social/Jornalismo
Trabalho Acadêmico - Produção e Recepção de Texto I
Profª. Mariana Salerno

Tamanho não é documento

Pequena como uma ameixa, linda como uma rosa, assim é a Raquel, mulher por quem sou arretado de paixão. A danadinha é linda de morrer, mas é uma taramela, tagarela demais. Sua língua é maior que uma carreta, em compensação, seus pés são minúsculos como um botão. Ela calça sapatos número sete, isso mesmo, número sete e, olha que ela não é de nenhum país do oriente, é uma cabocla lá da Amazônia, que gosta de tomar açaí, sorvete de cupuaçu e dançar carimbó.

Foi amor à primeira vista, está certo que entre as dançarinas do grupo de carimbó ela foi a última que vi, seus 1.50m de altura fez com que ficasse escondida entre as outras dançarinas, contudo, aqueles olhos vermelhos chamaram minha atenção. Falei pra mim mesmo: mulher de olhos vermelhos deve ser um diabo de mulher. Daí ficamos sintonizados na frequência desse olhar até hoje.

Fui laçado de verdade. Casamos, uso um anel dourado no anelar esquerdo, mas têm horas que queria ser igual aos patos, nasceram de dedos cruzados justamente para não colocar aliança. Eu e meu amor moramos em Madri, na Espanha. Sentimos saudades do Brasil. Sempre olhamos as fotos de nosso casamento. A minha florzinha naquele vestido enorme, cheio de panos, tentando se equilibrar em seus pequeninos pés. Linda e radiante, com 30 anos de idade e um sorriso de menina. Nossa lua de mel foi de fato um mel, nos lambuzamos nos prazeres da paixão, tudo isso por apenas R$100,00. Ainda rolou um delicioso vinho francês, “três meninas do Brasil” na voz de Moraes Moreira como fundo musical acompanhando nossos gemidos que quebraram o silencio que reinava nas ruas estreitas da velha São Cristóvão, em Sergipe.

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Universidade Federal de Sergipe
Comunicação Social/Jornalismo
Trabalho Acadêmico da disciplina Produção e Recepção de Texto I
Profª. Mariana Salerno

domingo, 4 de abril de 2010

A força que nunca seca

Para quem segue o percurso do rio, ela está lá. Lá no fim do cais. Sua imponência lembra um farol que não precisa de luz, ao contrário, à noite quando as luzes ao seu redor estão apagadas, torna-se o cantinho preferido dos namorados.

Suas raízes expostas demonstram a força de sua história. Foram tantos os outonos que novas folhas floresceram ocupando o lugar daquelas levadas pelo vento. No passado, a praia preferida pelos banhistas do nosso Rio Guamá era à sua frente. Vários foram seus vizinhos, bares e restaurantes que não estão mais por lá. Pontes, tantas pontes de madeira que por lá estiveram fixando uma moradia transitória dependente da força das águas. Hoje, o concreto substituiu a madeira e aos seus olhos brotou uma construção símbolo dos novos tempos. O passado, representado pelas suas raízes e galhos envelhecidos, convive frente a frente com o presente, representado pelo concreto.

Sentar no banco ao seu redor ou na mureta do cais de arrima à sua frente, além de sentir uma brisa deliciosa, podemos assistir de camarote o salto da meninada que curte a adrenalina de pular da ponte. Podemos avistar o movimento dos banhistas nas pedras da antiga cachoeira. Percebemos o passar dos carros, motocicletas e bicicletas que em segundos ou minutos, ao atravessar a ponte estão em outro município. Podemos ver o ônibus da Boa Esperança que, dependendo do sentido que vem, anuncia a chegada ou a partida à Capital.

A árvore robusta é mais que uma árvore. É mais que um ponto de referência. É um ponto de encontro. Degustar aquela cachaça com um grupo de amigos é um programa que sempre rola em seu quintal. Um quintal grande que, num passado recente, nas festas natalinas ganhava companhia da roda gigante, carrossel, autopista e outros jogos; muitas barracas, muita gente. No fim da tarde do dia 24 de dezembro, conseguir um espaço em sua varanda para ver a chegada de São Benedito é uma disputa. Lembro-me de vários brindes de fim de ano que fizemos à sua volta. Momentos que ficaram no passado, registrados na memória. Muitas coisas mudaram. Os parques de diversão já não ocupam mais seu quintal. Os brindes de fim de ano já não se fazem ao seu redor.

É a roda da história dando voltas. E a velha mangueira permanece lá como parte de um cenário envelhecido que se rejuvenesce ao som e ao ritmo das águas do Guamá e ao soar do sino da esplêndida igreja.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Pelourinho

Ruas estreitas
Pedra sabão
O passado
abraça o presente
A raça de ontem
mantém a riqueza de hoje

Casarões multicoloridos
Paredes multicoloridas
Tambores multicoloridos
Vestidos multicoloridos
Tererê multicoloridos
Cabelos, olhos, peles
Negros, negros, negras

Ladeira
No subir e descer
das cadeiras
Percussão
Marcação
Animação

Bares
Lojas
Livrarias
Cinema
Música
Teatros
Sorveterias
Museus
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Biblioteca Epifânio Dória: um descaso com a educação e a história sergipana

“Sem recursos, tento fazer aquilo que Epifânio fazia”, disse Pedrinho dos Santos, historiador e guardião do terceiro maior acervo de obras raras do país. A Biblioteca Pública Estadual Epifânio Dória possui mais de 100 mil obras raras, entre estas um livro de 1654 e uma bíblia de 1890. Porém, toda essa riqueza não é valorizada. No passado, a Biblioteca Estadual dispunha de um orçamento deliberado anualmente na Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe. Hoje, o seu vínculo orçamentário é com a Secretaria Estadual de Cultura que recebe menos de 1% do orçamento geral do Estado. “Temos que está mendigando. É um protocolo para conseguir uma estante”, disse o historiador.

O setor de obras raras é um dos que mais padece com a falta de dinheiro. Seu Pedrinho, como é carinhosamente chamado o historiador, é o único funcionário do setor. A sua pequena sala, por ele chamada de caixa de sapato, tem um ar condicionado que proporciona uma temperatura agradável, isso porque ele próprio apanhou o aparelho de ar no prédio central do Banco do Estado de Sergipe (Banese). Seu Pedrinho utiliza envelopes usados para conservar e restaurar os livros, pois nem papel é garantido para que seu trabalho seja realizado. Na sala dispõe de um computador moderno sobre um móvel amarelo brilhoso, uma impressora colorida, um aparelho telefônico novo, uma cadeira azul de rodinhas e uma cafeteira eletrônica. Em todos esses objetos pode-se ler PEDRINHO, pois o funcionário comprou todos com o seu próprio dinheiro e guarda as notas fiscais para comprovação.

Foi na ‘caixa de sapato’ que conversamos com Seu Pedrinho. Tomamos um saboroso café. Em meio à conversa folheamos livros antigos e podíamos ver no brilho de seus olhos o amor que tem pela sua profissão. Desde meado da década de 1990, dedica-se inteiramente à organização das obras raras da Biblioteca Estadual. Antes, trabalhava no Arquivo Público Estadual. “Vim para a Biblioteca Estadual em 1996 organizar o setor de obras raras e vou ficar até morrer. Não vou sair mais”, enfatizou Seu Pedrinho.

A Documentação Sergipana é outro setor de destaque da Biblioteca Estadual. Encontram-se 3.100 títulos de livros e 50 títulos de revistas em seu acervo. Em suas estantes podem-se consultar os livros da biblioteca pessoal do crítico literário Silvio Romero e do desembargador Gumercindo Bessa. Todas as obras deste setor são disponíveis somente para consulta.

A maioria do público da Biblioteca Estadual são estudantes em busca de materiais para seus trabalhos escolares. Os livros com os assuntos de todas as disciplinas escolares fazem parte do Acervo Geral Fausto Cardoso. São 7.190 títulos, disponíveis para consultas. Os livros para empréstimos estão no Acervo Circulante Armindo Guarará. Machado de Assis, Jorge Amado, Cecília Meireles e vários outros literatos brasileiros podem ser encontrados no Acervo Circundante. O empréstimo dos livros é concedido mediante o cadastramento. Para isso, solicita-se uma foto 3X4, comprovante de residência, carteira de identidade, um número de telefone fixo para contato e dois números fixos para referências. O cadastrado pode levar até dois livros por semana.

A cultura popular tem seu espaço garantido na Biblioteca Popular. A Sala de Cultura Manoel D’Almeida Neto é toda decorada com o artesanato sergipano. A literatura de cordel tem lugar de destaque. Seu Zezé de Boquim, um dos maiores cordelistas de Sergipe, é quem atende os visitantes. Vizinho à Sala de Cultura Popular, está localizada a Hemeroteca F.A. Carvalho Lima Júnior. Jornais antigos e atuais estão localizados neste acervo. A consulta é permitida e para manusear os jornais antigos utilizam-se luvas e máscaras. O mesmo procedimento é tomado no setor de obras raras e parte do acervo dos documentos sergipanos.

Livros didáticos, literatura infanto-juvenil, atlas e dicionários em braile estão à disposição dos portadores de necessidades especiais. Há também livros falados (áudio book). Segundo a estagiária Iara Gouveia, há um projeto para que as obras deste setor possam está disponível para empréstimos a partir deste ano. Atualmente, é permitida a leitura e a escuta dos áudios books na própria biblioteca.

Todo esse patrimônio cultural e educacional foi construído há mais de um século. A Biblioteca Estadual tem 161 anos. Foi criada pela Lei 233, de 16 de junho de 1848. Foi inaugurada no dia 2 de julho de 1851 e funcionava numa das salas do Convento São Francisco, na cidade de São Cristóvão, primeira capital sergipana. A Biblioteca Provincial de Sergipe, como era chamada há época, iniciou suas atividades com 415 livros, obras doadas pelo então presidente provincial, Amâncio João Pereira de Andrade.  Antiga biblioteca permaneceu no Convento até 1855. Com a mudança da Sede do Governo para a nova capital, Aracaju, teve livros e móveis guardados em salas da Assembléia Legislativa e das Secretarias de Governo até fins do século XIX. O governador José de Siqueira Menezes dotou a Biblioteca Estadual em um edifício próprio em 14 de julho de 1914, onde hoje funciona a Câmara de Vereadores. Permaneceu nesse prédio até 1936. No ano seguinte, foi transferida para o edifício onde hoje funciona o Arquivo Público de Sergipe. No dia 28 de outubro de 1974, no governo de Paulo Barreto foi inaugurado o atual prédio.

Epifânio Dória foi eleito o patrono da Biblioteca Estadual. Dirigiu-a entre 1914 a 1943. Foi um intelectual de permanente contato com fontes documentais, escreveu sobre variados temas da vida sergipana, reuniu preciosas coleções de documentos, livros, jornais e revistas. Enriqueceu o acervo da Biblioteca Estadual. Como homenagem, através do Decreto 2020, de 30 de dezembro de 1970, a Biblioteca Estadual passou a denominar-se Biblioteca Pública Estadual Epifânio Dória.

Infelizmente, o patrimônio histórico e educacional da Biblioteca Estadual não é valorizado. Estamos caminhando para a segunda década do século XXI e toda a catalogação dos títulos da Biblioteca Estadual é feita em fichas. Nada é informatizado. Seu Pedrinho está catalogando as obras raras em folhas de papel em sua prancheta. Há 20 anos o Governo do Estado não compra um livro novo para a Biblioteca Estadual, seu modesto Acervo Geral e Circulante é mantido com doações. Nos acervos e salas de leitura, ventiladores circulam no teto, o calor é um grande incomodo para quem precisa de um mínimo de conforto para trabalhar ou ler. Às 19h, todos os setores são fechados, pois não há funcionários suficientes para o atendimento, quem trouxe o livro de casa pode ficar lendo até as 20h quando encerra o expediente.

A Biblioteca Pública Estadual Epifânio Dória urge uma especial atenção.