quarta-feira, 25 de julho de 2012

O velho e a criança


O sol forte obrigou aquele senhor e a criança procurar uma sombra para repousar. Era o último sábado de junho de 2012, à sombra da mangueira, o idoso com mais de 70 anos, acompanhado de um menino de aproximadamente sete anos, sentou na calçada, passou a mão em seus cabelos brancos, olhou para frente e ficou refletindo sobre a vida. 

Pela janela do ônibus observei quando o idoso e a criança atravessaram a rua e  adentraram à área da rodoviária. Uma calça cinza desgastada e uma blusa branca de um tecido que um dia foi novo vestia o ancião. Seus pés tentavam ser calçados por uma sandália tipo havaiana de cor preta, velha tanto quanto a calça e a camisa. A idade pedia um apoio, o idoso caminhava amparado em um cabo de vassoura vermelho com o plástico preto em sua ponta, era a sua bengala. Em seu rosto, o cansaço era visível. As rugas, as marcas do tempo.

A criança não estava muito atenta ao idoso. Estava preocupada em comer. O relógio marcava 12:05h. Saboreava um salgado, desses vendido nas esquinas, acompanhado de um suco de cor clara, o qual não consegui decifrar, com o suor escorrendo em seu rosto de pele negra. Depois de atravessar a rua sentou na calçada junto ao idoso sob a sombra da mangueira, continuava mordendo o salgado e ingerindo o suco. Usava uma calça jeans azul, vestia uma blusa vermelha, em suas costas carregava uma mochila preta com detalhes azul, combinando com a cor da sua havaiana.

O idoso falava algumas palavras ao menino. Ele respondia. Era uma conversa com frases curtas. Parece que poucas palavras são necessárias para que se compreendam. Acho que o menino deveria ser neto ou bisneto daquele senhor. O que me chamou atenção foi fato de que ao avançar da idade precisamos de suportes físicos como uma muleta, mesmo uma improvisada como um cabo de vassoura. Como também precisamos de suportes humanos, mesmo que seja uma criança de sete anos que está mais preocupada em comer seu salgado e saborear seu suco.

O ônibus seguiu viagem, a próxima parada seria Fortaleza, meu destino. Fiquei olhando atentamente para os dois até minha vista não mais alcança-los. No fundo fiquei me perguntando como será minha bengala? Quem será meu acompanhante? A velhice vem, assim espero.

Fortaleza/CE, 01 de junho de 2012

Ônibus, estrada e serão

Não sei onde estou. No mapa, o google informa que estou no sertão do Rio Grande do Norte. Uma bola azul pisca constantemente como quem diz "oi, você está aqui". Não sei se quero saber onde estou. O que interessa saber a localização geográfica, a rodovia, o quilometro, latitude e longitude se estou preso dentro de ônibus azul com vidro fumê?

A terra árida, os rios sem águas, o verde que resiste ao longe confirmam que estou no sertão. Mas isso pouco vale, pois os vidros não deixam eu sentir o cheiro da terra, o vento bater em meu rosto, muitos menos ouvir o canto do carcará, a ave que pega, mata e come.

O que tenho ao meu redor é um completo silêncio, é como se eu estivesse só. A pessoa ao meu lado direito dorme, assim como 90% dos demais presente no veículo. Ao meu lado esquerdo, uma senhora negra, cabelos escovados, coberta com uma manta xadrez, ler para ver o tempo passar. Acho que é a única que está preenchendo seu tempo com algo mais útil. Seu óculos charmoso de cor marrom ajuda na leitura ao mesmo tempo em que deixa sua face mais bonita.

A minha frente, a vaga destinada aos idosos está vazia. Pela madrugada, um senhor que falava alto e tossia como uma guariba, desceu no sertão pernambucano. Sem sua presença o vazio aumentou sua proporção. A tosse do idoso pelo menos me avisava que não estava sozinho.

Neste momento, esse é o terceiro motorista que nos conduz. Nunca soubemos o nome de nenhum deles. Nunca se apresentaram, não disseram boa tarde, boa noite, bom dia, desde a partida em Aracaju. A única coisa que sei deste que nos conduz é que gosta do Queen e forró pé de serra, sonoridade que rolou ao amanhecer.

São 09:14h, o google informa no mapa que estamos em Mossoró, no Rio Grande do Norte. Agora que vamos tomar café. Por isso, vou parar de escrever, estou com fome.

16/07/2012

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Madrugada, jazz e blue

   A madrugada chega sorridente. Já não sei se quero seu sorriso. Foram tantas noites correndo atrás desse momento.
   Agora sinto o vento frio bater em meu rosto. A janela treme como se fosse sua primeira contração. Eu sigo virando os copos, bebendo, fumando e pensando.
   A noite é curta. Grande é a vontade de não ver a noite acabar. Esse é meu desejo. É isso que eu quero.
   O jazz que rola no som não me deixa dormir. Mal sabe ele, cada acorde faz com que eu vire os copos em uma velocidade cada mais avançada. Cada copo que viro, lembro de Amy Winehouse. A única que nesse pequeno espaço do novo século fez a gente sentir que o jazz e o blues são imortais.
   Por isso, bebo. Beber vigora a música e renova a madrugada. Por isso, bebo!

quinta-feira, 22 de março de 2012

Remédio

Saudade...
Se seu problema fosse a dor, tomaria Doril.
Sei que a dor poderia voltar, mas também saberia um remédio para amenizá-lá por alguns instantes.
A solução seria você [saudade] não existir.
Só não sei se a vida teria sabor sem a sua presença, sem a sua dor.