domingo, 4 de abril de 2010

A força que nunca seca

Para quem segue o percurso do rio, ela está lá. Lá no fim do cais. Sua imponência lembra um farol que não precisa de luz, ao contrário, à noite quando as luzes ao seu redor estão apagadas, torna-se o cantinho preferido dos namorados.

Suas raízes expostas demonstram a força de sua história. Foram tantos os outonos que novas folhas floresceram ocupando o lugar daquelas levadas pelo vento. No passado, a praia preferida pelos banhistas do nosso Rio Guamá era à sua frente. Vários foram seus vizinhos, bares e restaurantes que não estão mais por lá. Pontes, tantas pontes de madeira que por lá estiveram fixando uma moradia transitória dependente da força das águas. Hoje, o concreto substituiu a madeira e aos seus olhos brotou uma construção símbolo dos novos tempos. O passado, representado pelas suas raízes e galhos envelhecidos, convive frente a frente com o presente, representado pelo concreto.

Sentar no banco ao seu redor ou na mureta do cais de arrima à sua frente, além de sentir uma brisa deliciosa, podemos assistir de camarote o salto da meninada que curte a adrenalina de pular da ponte. Podemos avistar o movimento dos banhistas nas pedras da antiga cachoeira. Percebemos o passar dos carros, motocicletas e bicicletas que em segundos ou minutos, ao atravessar a ponte estão em outro município. Podemos ver o ônibus da Boa Esperança que, dependendo do sentido que vem, anuncia a chegada ou a partida à Capital.

A árvore robusta é mais que uma árvore. É mais que um ponto de referência. É um ponto de encontro. Degustar aquela cachaça com um grupo de amigos é um programa que sempre rola em seu quintal. Um quintal grande que, num passado recente, nas festas natalinas ganhava companhia da roda gigante, carrossel, autopista e outros jogos; muitas barracas, muita gente. No fim da tarde do dia 24 de dezembro, conseguir um espaço em sua varanda para ver a chegada de São Benedito é uma disputa. Lembro-me de vários brindes de fim de ano que fizemos à sua volta. Momentos que ficaram no passado, registrados na memória. Muitas coisas mudaram. Os parques de diversão já não ocupam mais seu quintal. Os brindes de fim de ano já não se fazem ao seu redor.

É a roda da história dando voltas. E a velha mangueira permanece lá como parte de um cenário envelhecido que se rejuvenesce ao som e ao ritmo das águas do Guamá e ao soar do sino da esplêndida igreja.

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