sábado, 12 de junho de 2010

Do ponto de partida ao ponto de chegada

Gente, muita gente. 7h da manhã. Horário de pico. A placa informativa percurso centro aglutina um número maior de pessoas ao seu redor.

Rostos variados, brancos e negros. Velhos e novos. Todos de uma só classe, a trabalhadora. Uniformes diferenciam estudantes e trabalhadores, mas o ponto de partida, a placa indicadora, não diferencia ninguém. Todos esperam o mesmo ônibus. Uns mais ansiosos que outros. Uns mais preocupados que outros. Não sei se a preocupação era por atraso ao trabalho e/ou estudo, ou simplesmente, pela batalha que logo seria travada – brigar por um assento – afinal, o número de pessoas era superior ao número de bancos daquele ônibus branco com linhas laterais azuis e vermelhas.

Eu também entrei na briga por um lugar ao sol, leia-se, por um banco no ônibus. Acho que por sorte, a porta traseira parou em minha direção. Aí, caminhei ao seu encontro. Está certo, vou confirmar, levei um empurrão básico ao subir, pois se não tivesse levado não teria graça. O mais importante, saí vitorioso na briga. Conseguí sentar.

Infelizmente, dezenas seguiram o percurso em pé. Isso já é vantajoso. Outros não conseguiram entrar. A lei da física é clara, dois corpos não ocupam o mesmo lugar. Assim, os derrotados na batalha matinal ficaram no terminal a espera do próximo round.

Sentei no primeiro banco logo após a porta, na penúltima fila. Pela janela vi a agonia de uma derrotada. Ela não tinha chance nenhuma de vencer, mas lutou. Carregava consigo uma caixa branca com letras azuis que antes guardara um ventilador. Como não estava com a minha “espada justiceira”, sem a minha “visão além do alcance”, não posso afirmar o que tinha dentro daquela caixa. Uma coisa posso dizer, não era um ventilador. O esforço que aquela mulher de rosto cansado fez para deixar a caixa ao chão demonstrou isso.

Além da caixa branca, aquela senhora derrotada no primeiro round, carregava dois rolos de corda de cor marrom amarrados com um fio branco, um aro de bicicleta não muito brilhoso e duas crianças, assim como ela, negras. Sem entender muito a batalha, as duas crianças ajudaram a mãe a colocar os dois rolos de corda e o aro da bicicleta sobre a caixa branca com letreiros azuis.

Aquela mulher qual não sei a idade, muito menos o nome e o endereço, olhou para o ônibus, depois para seus pertences (incluindo os filhos) e pensou. Não sei o que ela pensou. Mas pelo mover de seus lábios falou aos filhos:

- Fiquem aqui.

Em pensamento deve ter concluído:

- Daqui a meia hora vem outro.

E assim esperou. Não sei em qual round aquela mulher, que não tem cara de Maria, venceu a batalha. Não sei que horas chegou ao seu destino. Nem sei se chegou.

Durante o percurso os passageiros foram descendo. O ônibus lotado foi esvaziando-se. Eu e mais quatro passageiros, um homem e três mulheres, chegamos ao final do trajeto. As cadeiras cinzas, antes bastante disputadas, agora sem passageiros. No terminal do Centro de Aracaju estava marcado um novo round. Agora o ônibus fazendo seu itinerário inverso, com novos gladiadores e os mesmos juízes (o motorista e o cobrador), ambos com o mesmo uniforme – camisa azul, calça e sapatos pretos. O que os diferenciava eram as posições que um cada ocupava no interior do ônibus e o nome que exibiam nos crachás.

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