sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Somos sarará crioulo


Quem sou eu? Vira e mexe faço essa pergunta a mim mesmo. Sou um ser social? Sou um objeto? Sou um assessório? Sei lá. Sou tantas coisas ao mesmo tempo. Flerto por vários mundos, mas, particularmente, adoro passear pelo mundo da música.

O reggae de Bob Marley não seria o mesmo e ele não poderia ser chamado o rei dos rastafáris. Os meninos da Tropicália exibiam suas cabeleiras e as movimentavam ao som do novo ritmo musical. “A cabeleira, cabeluda, descabelada” passou a ser símbolo de uma geração alternativa. Para outros, a cabeleira era suspeita e a pergunta ficava no ar, “olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele é?”. Não sei e também não me interessa.

Nos dias de hoje, enquanto muitos procuram me alisar, me esticar, me cauterizar, me fritar na chapa, Vanessa da Mata com sua voz divina e maravilhosa, faz de mim o seu visual. Com o amarrado que só ela faz, fico mais volumoso. Chamo mais atenção quando ela coloca aquela flor vermelha e seu perfume de sim. Gosto da Vanessa porque ela me aceita da forma que cresci em seu couro cabeludo. Inclusive, com a música, brinca com aquelas, como a sua própria tia, que utilizam o “Joãozinho” ou o famoso bob para alisar as pontas.

Luis Caldas fez sucesso com seu “fricote” por causa de mim. Quem não se lembra da “nega do cabelo duro que não gosta de pentear, quando passa na boca do tubo o negão começa a gritar, pega ela aí”. Pois é, recentemente, as Três Meninas do Brasil chegaram a perguntar musicalmente para nega: “Qual o pente que te penteia? Qual o pente que te penteia, ô nega?”. Arnaldo Antunes entrou na conversa e foi logo rasgando o verbo “quem disse que cabelo não gosta de pente”. Sandra de Sá mandou de lá, em defesa da nega, “a verdade é que todo brasileiro tem cabelo duro, sarará crioulo”.

Na música também sou sentimento. Despertei saudades de um amor vivido, um fio de cabelo comprido que esteve grudando em suores de amor, era a única lembrança deixada no paletó. Saudades, muitas saudades daquela índia, de “seus cabelos negros, nos ombros caídos, negros como a noite que não tem luar”.

Viu? De boca em boca, de música em música, vou ganhando novos significados, novos conceitos. Comprido, cortado, tingido, trançado, escovado, aparado, descolorido, feio ou bonito, seco ou molhado. Múltiplas identidades reveladas ao som da música. Uma única certeza, independente da forma, do tipo, do estilo, sou cabelo. Espero continuar com todo esse sucesso, pois uma coisa posso dizer, não “são dos carecas que elas gostam mais”.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O milionário

“Boa noite. Está começando o programa O Milionário”, anunciou o apresentador. Minhas pernas começaram a tremer como dois pés de bambu durante uma ventania. Disfarcei o nervosismo com um sorriso sereno. Aos poucos, fui ficando calmo. Minha atenção foi direcionada ao apresentador que caminhava em direção ao seu assistente de palco. Este tinha em suas mãos os envelopes com as perguntas que seriam feitas no programa.

Com envelope vermelho em sua mão direita, Marco Aurélio posicionou-se a minha frente. Um pequeno adesivo com a logomarca do programa fechava o invólucro. Ele retirou o aderente e pegou a ficha onde estava escrita a primeira pergunta da noite. Olhei em seus olhos buscando demonstrar confiança e esconder meu nervosismo. Olhando para mim, leu o quesito. Respondi e fechei os olhos. Os aplausos da platéia informaram meu acerto. Fiquei feliz.

Passei a mão sobre o bolso da minha camisa para sentir meu amuleto da sorte, um trevo de ferro, presente de um primo meu, carrego comigo desde os meus 15 anos. Enquanto isso, Marco Aurélio recebia de Felipe o envelope azul. Como eu tinha avançado para a segunda pergunta, o novo envelope era maior que o primeiro e estava fechado com dois adesivos, referindo-se a ordem das perguntas. Marco Aurélio leu a segunda pergunta, anunciou o tempo estimado para a resposta – 15 segundos – e acionou o cronômetro. Retirei o trevo do bolso e segurei entre minhas mãos. Respondi e resolvi encarar o telão. Em poucos segundos foi informado meu avanço a pergunta seguinte. Sorri e sussurrei:

- Agora só restam três envelopes.

Sabia que as perguntas seriam mais difíceis a partir daí.Minhas mãos começaram a ensopar de suor. Peguei um lenço no bolso da minha calça e as enxuguei. Nesse momento, Marco Aurélio fez o anúncio dos patrocinadores do programa e frisou que nenhum participante tinha conseguido passar da terceira pergunta. Com isso, o apresentador me deixava mais nervoso e apimentava o programa para manter os telespectadores frente à TV. As pessoas que estavam assistindo queriam ver se o jovem de 18 anos passaria pela pergunta do envelope verde. A cor da sobrecarta representa a esperança. Acertar a resposta garantiria a mim R$500 mil, isto é, a metade do valor total pago como prêmio pelo programa. A resposta errada era o passaporte de volta para casa com o bolso vazio. Marco Aurélio leu a pergunta pausadamente. Respondi sem pressa. Por alguns segundos ficou aquele clima de suspense, a produção do programa colocou uma musica ambiente. O suspense era preciso, o apresentar sempre frisava que nenhum participante tinha passado dessa fase do programa. Ele perguntou se eu queria desistir e respondi que não. Passado o clima de suspense, o telão anunciava minha façanha em acertar a pergunta do envelope da cor da esperança. Não me contive, gritei de felicidade e fui até a platéia abraçar meu primo, aquele que me presenteou o trevo da sorte.

Voltei ao palco do programa. Fui parabenizado por Marco Aurélio. Eu estava muito feliz com o acerto e Marco Aurélio pelo índice da audiência que subiu segundo informes de seu assistente de palco. Minhas pernas voltaram a tremer como no início do programa. As mãos não paravam de suar. Mesmo nervoso, respondi sim a Marco Aurélio quando ele perguntou se podíamos seguir com o programa. Ele abriu o envelope cinza. O papel brilhoso ressaltava os quatros pequenos adesivos que lacravam o invólucro. Precisava subir esse penúltimo degrau da escada que levava ao prêmio maior. Não conseguia me acalmar, fiquei embaraçado com a pergunta feita pelo apresentador, pedi que repetisse. Ouvi atentamente, gaguejei um pouco, mas consegui responder. Outra vez, preferi não olhar para o telão e fixei meus olhos na platéia. Quando todos se levantaram e aplaudiram, meu coração disparou, começou a bater rapidamente. Os aplausos era a confirmação, tinha chegado à fase final do programa.

“Isso é inédito”, exclamou Marco Aurélio. A façanha fez com que o apresentador anunciasse o intervalo comercial. Eu aproveitei e fui outra vez a platéia receber um abraço de meu primo. Tomei um pouco de água, enxuguei o suor e mostrei a ele o trevo da sorte. Recebi um abraço apertado do assistente de palco e um aperto de mão do apresentador. O programa voltou ao ar. Frente a frente com Marco Aurélio, observei em sua mão esquerda o envelope da cor das barras de ouro que seria entregue a mim, caso acertasse a resposta. Foi explicado que a pergunta nãos seria de múltipla escolha, teria que responder no tempo máximo de dez segundos. Todos na platéia ficaram em pé. O nervosismo de antes duplicou. Minhas pernas não paravam de tremer. Marco Aurélio abriu o envelope, explicou novamente a regra para resposta e, depois do suspense, fez a pergunta. Respondi com os olhos fechados. Ouvi o grito da platéia e sentir papel picado caindo sobre minha cabeça. Quando abri meus olhos, vi meu primo caminhando em minha direção, abraçou-me fortemente exclamando “você é milionário”.

domingo, 25 de outubro de 2009

Fim de tarde


Levantei, olhei pela última vez aquele espetáculo que chegava ao fim. Pus meus pés em meus chinelos brancos e caminhei ao encontro com as águas. A areia que cobria meus pés foi levada e embalada pelas ondas, que assim como eu, despediam-se de mais um dia de verão.

O vento forte que mais cedo espalhava as areias, agora era ameno e um pouco frio. Os pingos coloridos que subiam e desciam as ondas agora eram poucos. Os mais firmes continuavam a aventura do equilíbrio sobre as águas em movimento. Para estes, a ida do sol para o oriente não significava o fim da aventura, mas para outros sim, para a maioria.

Os corpos que mais cedo desfilavam com poucas roupas passaram a ser cobertos com panos maiores. Biquínis foram cobertos por camisolas e as sungas por bermudas e camisetas. O chinelo trocara de posição com a luva, a areia fria permitia aos pés dispensa-los. Os óculos escuros viraram enfeites na cabeça, sem o sol perderam sua função e, logo, ganhou outra. Isto é a criatividade humana.

Os boleiros tentaram aproveitar os últimos raios da claridade na busca do gol. A partida cronometrada pelo relógio é interrompida quando o rei dos astros dá o apito final. Ver a redonda no escuro é complicado.

Quando sol ainda emitia seus fortes raios e minha pele pedia protetor solar, eu entrei na água, mergulhei por alguns minutos, brinquei com as ondas, as desafiei e fui arrastado por elas. Ficamos nesse estica e puxa por um bom tempo. Nada mais ousado que desafiar o infinito. Infelizes aqueles que nunca tentaram, jamais poderão descobrir até onde vai à força humana.

Caminhando pela areia, deixei minhas marcas que em poucos instantes eram desfeitas pela maré. Ao longe avistei um pedaço de madeira. Restos de cordas e ferros atracados permitiam concluir que deveria ser de uma velha embarcação. Sentei e pude ver por trás dos coqueiros o sol preparando-se para viajar para o outro lado da terra. As palhas dos coqueiros balançavam em um ritmo sincronizado com o movimento do sol. As palhas refletiam o brilho dos raios. Era uma despedida, sem tristeza e lágrimas, ao contrário, era um show único onde às ondas do mar emitiam o som e as palhas dos coqueiros ditavam o ritmo da dança. Um conjunto perfeito, o encontro dos três elementos – mar, vento e sol – resultou nesse lindo fim de tarde.

“Cada dia é um dia roubado da morte” (Clarice Lispector)

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Duas derrotas


Iniciada a última parte do programa, peguei os envelopes, caminhei em direção a Marco Aurélio e os entreguei. Como todas às vezes, sorri, mas confesso que pela primeira vez não fiz um sorriso falso perante as câmeras.

Nenhum participante tinha chegado a esta fase do programa. As manobras realizadas por Marco Aurélio impediam que qualquer participante chegasse à fase final. Nesse dia, tudo foi diferente.

Confesso que eu era obrigado a participar das falcatruas, afinal, não podia perder meu emprego, mas diferente de marco Aurélio, me sentia mal com cada manobra realizada. Nessa noite, percebi que podia fazer diferente. Podia evitar as manobras de Marco Aurélio, deixar de pactuar com suas fraudes, no entanto, tinha a certeza que estaria despedido. Eu não poderia aceitar mais essa situação, tinha remorso, já ele, ficava feliz com as tristezas e desespero das pessoas que iam a seu programa tentar ganhar o prêmio para mudar a vida.

Passei no corredor e vi que ele estava no camarim. Aproveitei para colocar meu plano em prática. Durante o intervalo comercial, substitui as perguntas selecionadas por mim e Marco Aurélio. Voltei para o estúdio sem deixar pistas. Eu estava um pouco nervoso, tomei água e sentei. Fiquei a espera de Marco Aurélio, a partir daquele momento ele enfrentaria dois adversários: o participante do programa e eu - nos bastidores.

Mesmo com o rosto maquiado, pude notar sinais de preocupação e nervosismo em Marcos Aurélio. O sorriso espontâneo desapareceu de sua face. Com as mãos, não parava de ajeitar o nó de sua gravata vermelha que contrastava com seu terno azul anil. Eu continuei agindo normalmente. Pelo fone de ouvido sugeri a Marco Aurélio que desafiasse o participante oferecendo a metade do prêmio para que ele desistisse do jogo. Assim ele fez, mas o participante não aceitou a proposta. Disse para que continuasse com o programa, voltei a sentar na poltrona a sua frente e fiquei olhando seu rosto no momento em que abriu o envelope. Assustado, passou a mão na cabeça desmanchando seu topete. Pelo fone de ouvido, perguntei se estava tudo bem. Minha pergunta foi ignorada. Eu olhei para ele e sorri em ver a situação em que coloquei Marco Aurélio. A pergunta foi lida e, em seguida, mostrada às câmeras como mandam as regras do jogo. Por um instante, a façanha de mostrar as perguntas às câmeras, após serem lidas, não foi um elemento favorável a ele. Em menos de dez segundos o participante respondeu corretamente.

O programa seguiu sem ninguém perceber o que estava acontecendo. Apenas Marco Aurélio sabia das trocas das perguntas, eu e ele cuidávamos dos envelopes. Continuei sentado na poltrona. Cruzei as pernas, retirei o fone do ouvido e pus sobre a mesa. Permaneci com os olhos fixados em Marco Aurélio. Tinha chegado a minha hora de torturá-lo com meu sorriso de deboche. Por um instante, passou em meus pensamentos lembranças das fraudes feitas, bem como, dos rostos tristes das pessoas que saiam do programa sem ganhar nada. Vi o suor escorrer pelo rosto de Marco Aurélio, quem o conhecia, notava que a firmeza de antes não o acompanhava mais. Eu, cumprindo meu serviço de assistente, fiz questão de entregá-lo o lenço de papel para que limpasse seu rosto suado. Afinal de contas, sua bela face não podia ficar brilhosa como seus belos sapatos pretos.

A forma séria como me olhou demonstrou ódio. Eu sabia que sua raiva era por saber que estava sendo trapaceado. O cara esperto e inteligente estava sendo enganado pelo seu simples assistente de palco, fiel escudeiro de suas trapaças. Eu apenas colocava em prática o que tinha aprendido com ele, meu grande mestre. O feitiço virou contra o feiticeiro.

Fiz o possível para que Marco Aurélio não manobrasse o jogo. Retirei tudo que tinha no bolso de seu paletó, inclusive sua caneta dourada da sorte. Ao colocar a mão no bolso, ele encontrou somente um bilhete onde escrevi “boa sorte”. Sem alternativa, o envelope final foi aberto. Eu mais uma vez emiti um sorriso cínico a Marco Aurélio, ele, descontrolado, deixou a pergunta cair no chão. Levantei da poltrona, juntei a ficha e de uma forma sutil fiz a pergunta ser captada pelas câmeras. Entreguei a ele a ficha, andei até a poltrona e me sentei.

O participante ganhou o prêmio de R$ 1 milhão. Eu saí do estúdio antes da entrega do prêmio. Fui caminhando pelas ruas, admirando a beleza da lua e do céu estrelado. Minha despedida do programa foi com sabor de vitória. Eu fiz Marco Aurélio sofrer duas derrotas nesta noite.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

20 anos sem o 'Rei do Baião'


No dia 02 de agosto de 1989, morreu um dos maiores ícones da música brasileira, Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”.

Gonzaga foi o criador de um gênero musical genuinamente brasileiro, o forró. Fez com a sanfona, o triangulo e a zabumba o ritmo que foi popularizado de norte a sul do país. Retratando, de uma forma simples e bela, o cotidiano do homem nordestino e de sua cultura. O Rei do Baião fez do forró o mais brasileiro de todos os ritmos.

As dificuldades vividas pelo povo nordestino, a simplicidade de vida e o orgulho pela sua terra são notórios nas letras, no ritmo, na dança, no chapéu de couro que são características únicas do pé-de-serra.

Nascido em Exu, interior de Pernambuco, Luiz Gonzaga era um homem simples, negro e matuto. Segundo ele, “um amarelo, bochudo, zambeta, cabeça de papagaio, feio pá peste”. Observando o pai animar bailes e consertar sanfonas, Gonzaga ganha intimidade com o instrumento que mudou sua vida ainda criança. No inicio, sua mãe Dona Santana não queria que o filho seguisse o caminho do pai, Seu Januário.

Quando jovem, em 1930, Gonzaga se alista ao exercito e ficou conhecido como “Bico de Aço” pela sua habilidade com a corneta. Em 1939, sai das forças armadas e vai para o Rio de Janeiro tentar a sorte como músico. Começou a cantar no “Mangue” (região do meretrício do Rio de Janeiro) como ele dizia. Tocou de tudo: choros, sambas, valsas, tangos e outros ritmos, porém, nenhum ritmo de sua região. Certa vez, foi questionado por um grupo de cearenses, por não tocar músicas nordestinas. Com o puxão de orelhas, as músicas de sua terra passaram a ser o carro chefe de sua carreira.

Dança da Mariquinha” foi a primeira música gravada enquanto cantor, em 1945. Nessa data, já tinha sido contratado pela Rádio Nacional depois do sucesso alcançado ao vencer, em 1941, o concurso no famoso programa de Ary Barroso com a música “Vira e Mexe”.

Seu maior sucesso, sem dúvida alguma, foi e continua sendo “Asa Branca”. Uma espécie de hino no nordeste, a música foi composta em parceira com Humberto Teixeira e gravada em 1947. A primeira lição do ABC nordestino é aprender a cantar “Asa Branca”. A letra fala do sertão, da seca e da esperança “da chuva cair de novo, pra mim voltar pro meu sertão”. Em parcerias com outros grandes compositores como Zé Dantas, Onildo Almeida e Zé Marcolino criaram lindas canções que até hoje são obrigatórias nos repertórios das grandes festas juninas que animam o nordeste.

Luiz Gonzaga e a Política
No que se refere à política, Gonzaga foi muito conservador. Apesar de suas composições retratarem a vida difícil do povo nordestino, como nas músicas “Asa Branca”, “Vozes da Seca”, “Ai seu Generá” e “Andarilho”, tinha horror aos políticos denominados de esquerda. Em sua passagem pelo exercito passou admirar os generais e, em 1964, declarou apoio à ditadura.

Gonzaga sempre era convidado para tocar nos saraus presidenciais e chegou a afirmar que “não havia tortura no Brasil”. Mas, foi vitima da própria ditadura, que o proibiu de cantar, em shows, as músicas “Vozes da Seca”, “Paulo Afonso” e “Asa Branca”.

Com o aumento das denuncias de tortura e mortes de vários ativistas, Gonzaga vai se desprendendo um pouco mais dos governantes e compõe com Humberto Teixeira “Salmo dos Aflitos”. No governo Geisel, em 1978, no seu disco “Dengo Maior”, a música foi incluída. Em 1980, gravou “Pra não dizer que falei das flores” de Geraldo Vandré.

Gonzagão e Gonzaguinha
Muitos se decepcionavam com a posição política de Luiz Gonzaga, incluindo seu filho Gonzaguinha. Durante anos, pai e filho tiveram um relacionamento difícil e distante. Somente, em 1981, os dois fizeram as pazes e proporcionam um grande momento histórico da música popular brasileira com a turnê “Vida de Viajante”, registrada no disco “Descanso em casa, moro no mundo”.

O Rei do Baião continua vivo
Em sua trajetória, Gonzaga dividiu o palco com grandes artistas como: Gal Costa, Sivuca, Elba Ramalho, Carmélia Alves, Marinês, Nélson Gonçalves, Dominguinhos, Oswaldinho do Arcodeon, Genival Lacerda e Fagner.

Entre suas centenas músicas gravadas algumas são obrigatórias em qualquer coletânea do cantor: Nem se Despediu de Mim, Sanfoninha Choradeira, ABC do Sertão, Xote das Meninas, Samarica Parteira, Qui nem Jiló, No meu Pé-de-Serra, Numa Sala de Reboco, Súplica Cearense, Juazeiro, Assum Preto, Vozes da Seca, Aproveita Gente, Feira de Caruaru, Riacho do Navio, Respeita Januário, Forró nº. 1, Cheiro de Karolina, Baião, Olha pro Céu, Triste Partida, A volta da Asa Branca, Paraíba, Forró de Cabo a Rabo, Cintura Fina e Pagode Russo.

Luiz Gonzaga continua vivo entre nós. Suas canções continuam animando festas juninas país afora. Não há festa de São João sem Gonzagão.
Os 20 anos da morte do “Rei do Baião” não silenciaram a sua sanfona.

sábado, 1 de agosto de 2009

Santa Chuva

Lembro perfeitamente dos meus olhos acompanhando a descida do barquinho de papel na correnteza formada pelas águas da chuva. Fazíamos dezenas deles. Todos seguiam o mesmo rumo, correnteza abaixo. Foram feitos para isso. Porém, quando soltávamos, nossos olhos acompanhavam o movimento de descida como se não quiséssemos que partissem ou como se estivéssemos atentos para que a descida fosse perfeita, pois, sempre ocorriam pequenos atropelos pelo percurso. Seguíamos até o encontro das águas com as tubulações. Voltávamos e soltávamos outro e, assim, repetíamos até acabar os brinquedos, feitos com restos de jornais e revistas, produzidos naquela tarde chuvosa.

Água, muita água. Corríamos às biqueiras das casas. A água caia com força em nossas cabeças. O revezamento era feito e todos passavam por debaixo delas. A disputa era pelas mais altas. Quem chegava primeiro comandava a área e quem chegava por último era a mulher do padre.

A chuva permitia que a criatividade invadisse nossas mentes. Construíamos, com muita areia e pedaços de pau, grandes represas. Éramos verdadeiros engenheiros construindo barragens. A descida da água era controlada por nós. Na verdade, controlávamos até quando a água queria, muitas vezes, ela se rebelava e impunha sua força passando por cima da nossa construção. Fazíamos tudo de novo, com mais areia e mais pedaços de pau. Momentaneamente, controlávamos a força da natureza.

Chuva forte combinava com manga no chão. Corríamos ao quintal da minha casa, ao da minha tia e dos vizinhos. A chuva permitia por um instante a propriedade comunal das terras e das frutas. Para nós eram comunais, para seus donos, não. Mas a aventura não tinha limites. Muros, cercas e cachorros eram superados. Nada que um bom trabalho em equipe não resolvesse. Comíamos as mangas, muitas vezes, rindo dos obstáculos que superamos para apanhá-las. Acho que os sacrifícios às tornavam mais saborosas.

Nem sempre aproveitei a chuva dessa maneira. Muitas vezes, fiquei em casa, deitado, embrulhado em um bom lençol grosso, ouvindo o barulho nas telhas e sentindo seus respingos. O som emitido era uma verdadeira sinfonia onde as notas musicais não podiam ser decifradas, só ouvidas e guardadas na mente. Era um som que embalava sonos e sonhos profundos. Chuva, som, sono e sonho.

Os raios e trovões, chuva ou outra, davam o ar da graça. Por trás das arvores, podíamos ver o lindo clarão de luz e ao longe seu estrondo. A fé cristã entrava em cena. Jogávamos no chão do quintal a palha abençoada pelo padre no Domingo de Ramos. Minha mãe dizia que era para proteger nossa casa de um raio. Mas, eu ficava olhando o lindo clarão dos raios e em meu olhar inocente enxergava mais beleza que perigo. Raios, trovões, clarões.

Sinto saudades dos banhos nas chuvas da minha Amazônia. Dos barquinhos de papel, das biqueiras, das represas de areia, das mangas expropriadas e da velha palha abençoada. No Pará é assim, sempre chuva, santa chuva.



“vai chover
de novo
deu na Tevê”
(Marcelo Camelo)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Meu primeiro encontro com amor

Ainda era madrugada. Nem sei se dormi. A espera deixou-me ansioso. Imaginações tomaram conta da minha mente. Por um instante, acho que dormi acordado. 

Quando ouvi aquela voz dizendo “vamos nos arrumar”, não teve muito significado para mim, pois eu já estava arrumado. A minha noite foi dedicada somente a isso, preparar o dia seguinte. 

Pegamos a estrada, 3h da manhã, em um dia das férias de julho de 1989. A cada instante que passava, mas ansioso ficava, mais imaginações vinham à cabeça. Enfim, chegamos à Salinopólis, litoral paraense, às 6h. O nascer do sol revelava aos meus olhos um espetáculo nunca visto, inédito a íris e às pupilas dos meus olhos. Meu encontro com Atlântico, depois de muita ânsia e imaginações, aconteceu. Ele era muito maior e muito mais salgado do que esperava.

O carro mal parou, eu saí correndo ao seu encontro. Quanto mais me aproximava, menor eu ficava. Mas não tive medo. Lancei-me ao mar por inteiro. Senti a força de suas ondas e o sabor de suas águas, literalmente, pois lembro muito bem que engoli uma boa quantidade. Minutos depois, estávamos numa boa. Quem olhava poderia achar que éramos velhos amigos. Já não me sentia pequeno perto dele, bem como, não tomei mais suas águas. Agora, eu já me sentia parte do seu contexto. Eu não era somente mais um banhista, mas sim um descobridor dos sete mares, sendo que essa era a minha primeira descoberta.

Percorri sua extensão em sentido norte e seu oposto. Procurei e encontrei lugares para conversar a sós com meu novo amigo, falar alguns segredos, bem como ouvir, nas conchas, os seus. Brincamos de escrever nossos nomes na areia. Eu escrevia e ele apagava. Assim ficamos boa parte do tempo. Construímos castelos, depois os desmoronamos, era parte da brincadeira. Construir e destruir. Assim, como as ondas vêm e voltam. Assim, como eu, fui, mas tinha que voltar.

17h. Nosso primeiro encontro chegava ao fim. O sol que nasceu às 6h, brilhou o dia todo, proporcionava mais um espetáculo caminhando ao oriente. Anunciava a hora da despedida. Novamente, escrevi meu nome na areia para ser levado pelas ondas e pedi ao meu amigo que o deixasse guardado em seu caderno de anotações. Acredito que assim ele fez, pois onde encontro meu querido amigo Atlântico, sou muito bem recebido em suas areias encharcadas pelas águas salgadas que lá no fundo tem um sabor especial. Seu abraço vem em forma de uma onda, grande ou pequena, mas com certeza aconchegante. Esse é o mar de tantas histórias. Passou a fazer da minha vida, nesse julho de 1989 e até hoje não nos separamos. Somos velhos e grandes amigos.

E, como afirma Caymmi, “o mar quando quebra na praia, é bonito, é bonito”.

Assista o vídeo de Caymmi cantando a música "O mar".

domingo, 19 de julho de 2009

No parque de diversões

O amor aparace...


...em meio à diversão...


...em meio aos brinquedos...


...em meio à sorte...


...e na fantasia de subir e girar
em torno de sí mesmo.


By Roberto Aguiar
Carmopólis/SE
Sexta, 17 de julho de 2009.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Feira de Caruaru

A diversidade da cultura nordestina reunida em um só lugar

Quando alguém ou algum meio de comunicação fala sobre Caruaru/PE é sempre se referindo à cidade do maior festejo junino do nordeste brasileiro. È certo, também, que esse título é disputado com Campinha Grande/PB e Aracaju/SE. Mas, não será sobre esse assunto que iremos tratar aqui. A capital do agreste nos reserva outra façanha, reúne em um só lugar a diversidade da cultura nordestina, na Feira de Caruaru.

Artesanato, ervas, cordel e até produtos importados. De tudo se encontra. Como canta Luiz Gonzaga, na música A feira de Caruaru (poeta Onildo Almeida), “tudo o que há no mundo, nela tem para se vender”. A feira é reunião de um conjunto de outras feiras, em torno de 15, que juntas formam a feira-mãe, um grande caldeirão cultural.

A mais importante feira do interior do nordeste, iniciou-se ainda no século 17, em uma antiga fazenda onde os viajantes paravam para se abastecer num poço. Hoje, a feira funciona na parte central da cidade, no Parque 18 de maio, sendo que até 1992, funcionava no Largo da Igreja da Conceição.

O movimento acontece em todos os dias da semana. A feira de artesanato nunca é desmontada. Já a feira do troca-troca, onde nada se vende, tudo se troca (bicicleta, rádio, celular e outros produtos) acontece aos sábados. A partir da terça-feira, é montada a Feira da Sulanca, popularmente chamada, “Feira do Paraguai”, já que os produtos importados são aí negociados. A feira de ervas apresenta a medicina alternativa com seus remédios populares, uma tradição herdada dos antepassados.

A Feira de Caruaru é um grande baú encantado. É como uma cartola de um mágico, várias surpresas aparecem em um passe de mágica. São mais de dois quilômetros de ruas ocupadas. Centenas de barracas coloridas vendendo uma diversidade de produtos. Chapéus de palha, de couro e tecido, cestas, objetos de barro e cerâmica, brinquedos populares, gaiolas, estilingue, roupas, calçados, bolsas, panelas e outros utensílios para cozinha, móveis, animais, ferragens, miudezas, rádios, artigos eletrônicos importados e muitos outros. No caldeirão cultural, conjuntos musicais e bandas de pífanos se apresentam fazendo uma mistura entre o comércio, a festa e a arte. Cegos tocam sanfona, violeiros e cantadores lançam seus desafios e os vendedores de literatura de cordel anunciam através de um alto-falante as proezas dos cangaceiros.

No ano de 2008, a Feira de Caruaru foi tombada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). A feira que permitiu que a venda da poesia popular, pendurada em cordões, recebe-se o nome de literatura de cordel, hoje, é um patrimônio de todos nós.

Caruaru está localizada a 130 km de Recife. É uma cidade ícone da cultura popular nordestina. Com certeza, conhecer Caruaru é uma boa pedida.

Fotos


terça-feira, 30 de junho de 2009

Uma viagem musical


Aquele botão vermelho tem horário certo para ser apertado. Todas as noites, depois do jantar, lá pelas 20h, ele pega a extensão branca, de mais ou menos três metros, liga na tomada localizada no pátio e a estende até a calçada. Volta, pega sua cadeira preguiçosa de pano xadrez e seu parceiro prateado. Senta e o liga. O botão vermelho foi acionado, a estação é sempre a mesma. Assim, começa a viagem musical de um Senhor de 70 anos.

O parograma que rola na rádio só toca as músicas do passado. Aquelas que são tiradas lá do fundo do baú. Nessa rádio, há uma particularidade, toca muitas músicas regionais, músicas da terra, onde os artistas locais têm seu espaço reservado. O programa é literalmente, uma volta ao passado.

A concentração com o que rola na rádio é visível na face do ouvinte. Vira e mexe ele fala sozinho. Como se estivesse sussurrando algumas de suas lembranças que veio à mente. Quando eu estava por lá, procurava observá-lo e algumas vezes, cheguei a compartilhar desse momento.

Pelo fato de está sentado na calçada, em frente a sua casa, é natural que sua esposa, filhos, netos e vizinhos, às vezes, formem uma roda de conversa à sua proximidade. Nem mesmo isso atrapalha a sua concentração. Sua viagem com a música segue naturalmente.

Eu ficava observando. Acho que ele nunca percebia isso. Não gostava de interrompê-lo. O que notei é que esse horário é muito importante para esse Senhor. É tão importante que ele continua cumprindo sua rotina religiosamente todas as noites.

É uma pena que não posso mais observa-lo com mais freqüência. A distância tem impedido isso. Hoje, na verdade, sempre que posso, interrompo sua viagem musical quando peço para que a mamãe o chame para falar comigo ao telefone. Por alguns minutos, o programa de rádio divide a atenção desse Senhor comigo.

Antes das 22h, o movimento inverso é realizado. O botão vermelho é mais uma vez acionado. O rádio foi desligado e a viagem musical do meu Pai chegou ao fim.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O valor da amizade

Tomar banho, jantar e ir ao encontro com os amigos. Era assim a rotina de todos os adolescentes que moravam naquele quarteirão.
Algumas noites íamos à praça do centro da cidade, mas não era esse nosso programa favorito. Curtíamos nosso bairro. Então, nossos programas noturnos aconteciam por lá mesmo, em especial, na nossa própria rua, em nosso quarteirão.

O ponto de encontro era o disputado banco de madeira localizado à frente da casa de uma vizinha. Nele cabiam exatamente três pessoas. A disputa por uma vaga era ferrenha.

Um a um, a molecada ia chegando. Em torno ao banco, formava-se uma roda. Uns pegavam cadeiras nas suas casas, outros sentavam no chão sobre suas sandálias. O importante era entrar na roda.

Meninos e meninas estavam todas as noites no famoso banco. Muitas conversas, discussões, algumas brigas, fofocas e armações. De tudo um pouco por lá se passou. Antes de iniciarmos qualquer brincadeira ou aventura era debatido no banco, ou melhor, na roda. Muitas vezes, nem saímos dele. Ficávamos lá conversando. Alguns adultos entravam na roda e, vez e outra, rolava até um cafezinho com aquele delicioso bolo de macaxeira que a mãe do nosso amigo preparava, diga-se de passagem, a dona do banco. Dona no sentido formal já que ficava em frente a sua casa, mas era nosso por utilidade.

O banco recebia nossos cuidados. Sempre estávamos revitalizando-o com madeiras novas. Esse serviço era feito por nós mesmo. Por incrível que pareça, nas reformas que fizemos, nunca aumentamos seu tamanho. Sua medida era exatamente para três pessoas normais, digo, não obesas. A energia do banco vinha justamente do seu tamanho. Era mais que ponto de encontro, era a peça inicial da roda que se formava. Aumentar seu tamanho significava acabar com a roda, ou seja, dar fim ao que mais tinha de bonito entre nós adolescentes daquele quarteirão, a coletividade.

Os adolescentes cresceram. Caminhos diferentes foram construídos. Mas, nossas amizades estão até hoje ligadas pela ciranda construída em torno ao simples banco de madeira. Infelizmente, hoje não há mais aquele banco e nenhum outro foi posto em seu lugar. Os atuais adolescentes que vivem nesse quarteirão precisam construir um ponto de encontro para descobrir o valor da amizade.

Quadrilha Tatu na Roça: tradição, alegria e irreverência

Os valores da modernidade ainda não conseguiram abalar o brilho da festa de São João, pelo menos para aqueles que participam da quadrilha Tatu na Roça. Alegria, irreverência e, acima de tudo, a tradição são as características daqueles que fazem das ruas de Aracaju o palco da festa.

A festa é totalmente financiada pelos seus brincantes e entidades dos movimentos sociais. A quadrilha leva para as ruas a alegria de brincar o São João acompanhado de um tema político. Esse ano o tema foi à campanha “O petróleo tem que ser nosso. Por uma Petrobras 100% estatal”. O Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro) e a Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas) foram mais uma vez grandes apoiadores dessa tradicional festa.

São 23 anos de tradição. Mais de 200 brincantes percorrem as ruas de Aracaju em carroças enfeitadas. Homens vestidos de mulheres e mulheres vestidos de homens formam personagem para lá de irreverentes. Sem esquecer o tradicional casal caipira que durante o percurso realizam o casamento na roça. Em alguns pontos as carroças são paradas, os brincantes improvisam a quadrilha e o arrasta pé começa.

Por onde passa, a quadrilha ganha os aplausos e a simpatia da população. As calçadas são tomadas por moradores que brincam com a quadrilha e seus personagens. Fotos, filmagens, beijos, sorrisos, oferecimentos de comidas e bebidas, fogos de artifícios e aplausos. Foliões da quadrilha e seus admiradores fazem uma só festa, uma só homenagem a São João.

Eu não poderia ficar fora dessa festa. Impossível. Há 3 anos participo com muita alegria. Quem vê se encanta e quem participa descobre o verdadeiro significado da maior comemoração da cultura popular nordestina.

É São João. Parabéns à Quadrilha Tatu na Roça. A cada ano que passa a tradição é mantida e a independência da festa é quem garante esse lindo resultado. Mais uma vez, parabéns.


IndicaçõesQuem quiser conhecer melhor a Quadrilha Tatu na Roça basta acessar o site: http://www.tatunaroca.com/. Veja a história, fotos e o percurso da quadrilha. Dê uma espiadinha.

LinksMatérias que saíram nos telejornais locais. Veja a animação da Quadrilha Tatu na Roça:
TV Atalaia: http://www.atalaiaagora.com.br/galeria_video.php?v=1354

TV Sergipe:
http://emsergipe.globo.com/multimidia/busca.asp?modo=jornaldia&chave=setv2&data1=20090624&data2=20090624


Fotos
Algumas fotos da tradicional festa. Êita que a folia foi boa.

Foto 1 - Trio com a faixa da Quadrilha e da Campanha - Petrobras 100% estatal


Foto 2 - Eu e Fernando

Foto 3 -Valéria, Raquel, Zeza e Tati


Foto 4 - Ativistas do Sindicato dos Petroleiros e da Conlutas


Foto 5 - Cortejo das carroças

sábado, 13 de junho de 2009

Primeira produção

Vídeo produzido como trabalho da disciplina Introdução à Comunicação.
Eu, João, Mari, Victor, Délio e Nicelma fomos os grandes produtores desse trabalho. Nossa ida ao Batistão está retratada em 5 minutos.
Foi tudo de bom. Isso foi apenas o começo.
Flw

"Não sabendo que era impossível, fui lá e fiz"

sexta-feira, 22 de maio de 2009

O anônimo


E lá vem ele, como em todos os sábados à tarde, anunciando em gritos fortes a sua venda. Da janela do meu quarto, entres as folhas das arvores, podia ver ao longe seu avental engomado, onde o branco contrastava com a cor de sua pele. Sem buzina ou outro instrumento que emitisse som, era com seus gritos fortes que ganhava atenção dos moradores. O anuncio atraia seus fregueses, que assim com eu, iam à janela e pediam para que esperasse, enquanto descia as escadas do prédio pensava qual sabor comprar.

Entre cada iguaria vendida fazia uma brincadeira com seus fregueses, sem perder o respeito e a simpatia. Seu sorriso era permanente. Não me lembro um sábado se quer que o visse sem esse semblante de alegria. Nem mesmo o dia em que um freguês derramou leite condensado em seu avental, ele tirou o sorriso do rosto. Ele deveria ficar um pouco bravo, pois afinal de contas, nunca tinha visto um sujo em seu avental. Vestia-se bem, estava sempre limpo e engomado. Do chinelo à boina branca que usava na cabeça, tudo era simples, mas era limpo e bem cuidado.

O avental destacava-se não somente pelo branco alvo, mas pelo seu bolso vermelho, lugar onde ele guardava seu dinheiro. O bolso era vermelho justamente para que o dinheiro não transparecesse. Nesse bolso guardava o dinheiro trocado, no bolso de sua calça guardava as notas de valores maiores, segundo ele por uma questão de segurança. E ele estava certo, pois seu físico estava mais para o Salsicha do que para o Popeye.

Além dos seus 1,85m de altura, o que chamava atenção era sua chinela de couro, não pelo modelo, mas pelo seu desgaste das longas caminhadas que percorria, carregando nos braços seu tabuleiro. A preferência por uma chinela de couro revelava sua origem nordestina, já seu sotaque nem tanto, assim como nós paraense falava “égua” em toda e qualquer situação. Já era tão paraense que o seu time do coração estava estampado na cor de seu tabuleiro. O azul celeste confirmava que ele era torcedor do Payssandu. Eu, uma vez, perguntei por que ele tinha pintado só de azul celeste, já que a cor do seu time de coração também era o branco. Ele respondeu dizendo que economizou tinta, pois as tapiocas completavam a outra cor da bandeira bicolor.


Suas respostas humoradas, sempre vinham acompanhadas de um sorriso que ofuscava seu português falho. Falava de uma forma simples, bonita e sincera. Não demonstrava vergonha em ser um vendedor de tapioca. Sua forma de tratar as pessoas, seu jeito de conversar fazia com que a relação vendendor-cliente fosse abolida por um instante, parecia que era um amigo que vinha aos sábados lhe visitar. Era uma pessoa tão legal que nunca procurei saber seu nome, sempre o chamei de “amizade”. Ele sim, procurava chamar as pessoas pelo nome, principalmente aquelas que conhecia há bastante tempo. Esse seu jeito evidencia que há anos vendia tapioca de porta em porta, assim como suas rugas e seus cabelos grisalhos revelam seu tempo vivido.


Sempre que chegava próximo ao tabuleiro eu já ia dizendo “fale amizade”. Ele sorria e nem esperava fazer meu pedido, já me servia uma tapioca bem molhada ao leite de coco. Essa era minha preferida. Ela vinha enrolada na palha da bananeira. Teve um dia que o verde da palha refletiu no amarelo-dourado de sua aliança. Dei uma mordida na tapioca e falei que estava uma delicia. Ele, acariciando a aliança, disse que era sua “dona” que fazia. Mas que ele a ajudava.


As tapiocas eram de fato um delicia. A simpatia e alegria de um simples Senhor as tornavam mais atraentes a serem consumidas. Eu comia sempre mais de uma e levava uma para minha irmã. Chegando em casa, eu voltava para janela do meu quarto, via ele fechar seu tabuleiro, despedia-se das pessoas e continuava sua caminhada. Ao longe, podia-se ver o avental branco sumindo aos poucos e ouvia-se aquela voz forte gritando tapioqueiro, pausadamente.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

O lobo mau vai morar com a vovozinha

O blog proporciona noticiar as coisas mais simples da vida, como por exemplo, uma conversa entre dois amigos. Esse pequeno texto é resultado de um papo entre eu e um amigo. 

Esse meu amigo morava em uma outra cidade, tem pouco tempo que ele mudou-se para Aracaju. Conversávamos sobre o fato de morar em outra cidade, longe da família, já que esse é um caso comum entre ele e eu (sou paraense), porém a diferença é que ele ficou longe da namorada. Era justamente esse o nó da discussão. 

Na conversa, ele falou que sua namorada mora com a avó e que em uma das ligações recebida de sua namorada (que não são poucas durante um só dia) a mesma disse que tinha conversado com a avó e que as duas tinham decidido mudar para Aracaju (o que o amor não é capaz, hein).


Ele (todo feliz, claro) estava fazendo planos e mais planos. Inclusive, já havia planejado o modelo de casa que alugarão, pois ele vai morar com sua namorada e a vovozinha. Segundo ele, não pode ser apartamento, tem que ser uma casa, pois a vovozinha é daquele tipo chiclete (vive grudada na netinha) e, mais ainda, a casa tem que ter jardim, já que a diversão da vovó será cuidar do jardim e, assim, o casal de pombinhos terão mais tempo sem a vovozinha por perto.


O amor de fato nos leva a fazer coisas inacreditáveis. Eu, como sou amigo, torço pela união do casal. Só fico pensando, como será a convivência entre o lobo mau e a vovozinha?


Terminamos esse papo, eu dizendo a ele: “quer dizer que o lobo mau vai morar com a vovozinha né”. Rimos. Depois eu disse que escreveria um texto no meu blog relatando esse momento. Dito e feito.


Quem ficou presa na armadilha foi a netinha. Se correr o lobo come e se ficar a vovozinha gruda. Espero que o esse trio consiga viver na boa. O amor é capaz de fazer coisas que até Deus tem dúvida.

domingo, 19 de abril de 2009

Ipiranga com São João, um cruzamento que deu certo

Mesmo aqueles que nunca foram a São Paulo já ouviram falar da Avenida Ipiranga e a São João. Caetano Veloso em sua canção “Sampa”, umas das mais belas homenagens a São Paulo, imortalizou o cruzamento dessas duas avenidas.

Localizadas no centro de São Paulo, as duas avenidas representam o crescimento da cidade. Foram alargadas na década de 30, preparadas para receber os automóveis que aos poucos começavam invadir a metrópole.

A região tornou-se ponto de encontro, inclusive para artistas e intelectuais. Bares tradicionais como Bar Brahma, O Papai e Sujinho (na Consolação), todos ainda em funcionamento remetem à velha história.

Quem quer aproveitar a noite paulista não pode deixar de ir a essa região do centro de São Paulo. O presente voltando ao passando. O novo e o velho lado a lado, caminhando, construindo o futuro.

A boemia pede passagem. Precisa de ruas e avenidas. Semáforos e passarelas. Cruzamento e Esquinas. Eu, a caminhar por elas.

Para: Gisele e Gil – em outubro de 2007, fizemos um tour pela noite paulista. Andamos da Rua Augusta ao Largo do Arouche. Passamos pela Pça. Roosevelt tomamos uma cerveja geladinha, claro; no cruzamento da Ipiranga com a São João, não podia ser diferente, cantamos “Sampa”. Bom saber que isso foi às 4h da madrugada. Bom demais. Único. Inesquecíevel. Em outubro de 2008, refiz o mesmo trajeto com o Rodrigo. Amigos, saudades de vocês !!! 

domingo, 18 de janeiro de 2009

Um pouquinho de carnaval não faz a ninguém!

O ano começa e o clima de carnaval contagia as cidades. Em Belém do Pará não é diferente. O mês de janeiro é marcado por desfiles de blocos tradicionais que mantêm viva as bandinhas e as maravilhosas marchinhas de carnavais. O lugar escolhido não poderia ser outro: o bairro da Cidade Velha.

As ruas estreitas do bairro são invadidas por foliões, que junto com os moradores do bairro, dão o brilho à festa. Os blocos Fofó de Belém e Jambú do Caveira saem todos os domingos fazendo uma bela e espetacular festa. Os dois blocos são organizados por duas figuras ilustres. O bloco Fofó de Belém é organizado por Elói Glesias, um dos melhores artista paraense, e tem a Praça do Carmo como sua apoteose. O Jambú do Caveira é organizado pelo Caveira, tem na sua boate Mistical o ponto de concentração do bloco.

Ir aos domingos a Cidade Velha é uma boa pedida. Relembrar os velhos carnavais no bairro mais antigo de Belém é voltar no tempo, com o pé no presente. Ao som da bandinha, marchinhas como “O jardineira por que estais tão triste, mais o que foi que te aconteceu? Foi a Carmélia que caiu do galho, deus dois suspiros e depois morreu” são cantadas por todos os foliões: velhos, jovens, crianças, homens e mulheres, pois, a final de conta, um pouquinho de carnaval não faz a ninguém!

*direto de Belém (PA)