quinta-feira, 29 de maio de 2014

Ourém 252 anos: como é grande o meu amor por você

Era domingo, 8 de março de 1998. Acordei às 5h, ainda estava escuro. Tomei banho. Saboreei o café feito com carinho pela minha mãe, dei um forte abraço nela e em meu pai. Peguei a bolsa. Caminhei em direção ao terminal rodoviário. Aquele jovem, que no dia anterior completara 18 anos, estava indo embora para Belém continuar seus estudos. Deixei família e amigos e fui descobrir um novo mundo.

Hoje, 16 anos depois, moro em Aracaju (Sergipe), no nordeste brasileiro, longe de Ourém, interior localizado no nordeste paraense, há mais de 1.500km. Contudo, não tem distância que diminua o amor que eu sinto pelo meu lugar, pela minha aldeia, pelo meu povo.

Dias atrás, sentado na areia da praia, curtindo a brisa do mar e ouvindo o barulho das ondas, me peguei correndo na Travessa Tembés, quando ainda não era asfaltada. A piçarra com suas pedras não impedia que fizéssemos da rua nosso campo de futebol, de taco e de queimada. “Não valeu o gol. Foi falta”, “Não derrubou a lata. Tem que derrubar”, “Você morreu. Passe para o outro lado”, escutei os gritos que dávamos durante nossas brincadeiras nas tardes ensolaradas ou chuvosas do Pará.

Olhando para a imensidão do Oceano Atlântico me peguei nadando nas águas correntes do estreito Rio Guamá. Senti-me caindo da boia no meio do rio, pulando do cais ou da ponte, correndo pelas pedras da cachoeira, andando de canoa, comendo charque assado com farinha, tomando cachaça 51 na escadinha e tirando o gosto com manga verde que derrubávamos da velha mangueira que reinava imponente na beira do arrimo.

Um casal de adolescente caminhava na areia da praia, vestiam o uniforme escolar. A moça de pele bronzeada soltou seu enorme cabelo preto para balançar no ritmo do vento que arrastava as ondas. Olhando pra eles me encontrei na Escolinha do Atlântico, atual Rubens Guimarães Júnior. Foi lá que eu estudei da pré-escola à 3ª série do ensino fundamental. Foi lá que eu descobri o mundo da escrita, do cálculo e da leitura. Meus primeiros passos no mundo do saber acadêmico foram na escola que abrigava o Complexo Esportivo da cidade, com o estádio de futebol que foi palco de tantas alegrias proporcionadas nos clássicos entre Luiz de Moura e Liderança. Em seguida lembrei da Escola Padre Antônio Vieira, onde estudei a 4ª série do ensino fundamental, com seus corredores, muitas salas de aulas, uma campainha de barulho forte e uma merenda escolar impecável preparada pela minha Mãe e suas amigas-comadres Dona Direne, Dona Júlia, Dona Guiomar, Dona Joaquina e Dona Maria do Aurélio. Aos poucos, cheguei à Escola Padre Ângelo Moretti, entrando pelo portão que me dava acesso à 5ª série do ensino fundamental até o 3º ano do ensino médio. Era um colégio enorme aos meus olhos e atravessar aquele portão era símbolo de crescimento, estava deixando de ser criança. Deparei-me com um lindo bosque, cheio de animais, mesas e bancos de madeira. Nessa escola avancei pelo mundo do saber, descobri a complexidade dos números e letras aprendidas nas séries inicias, viajei pelo mundo da ciência, descobri a história do homem enquanto ser social e sua localização geográfica. Tudo isso conduzido por professores fabulosos.

Levantei da areia e resolvi caminhar pelo calçadão da orla de Aracaju. Cheguei ao ‘Mundo da Criança’, uma área cheia de brinquedos, espaço onde a meninada se diverte. Lembrei do nosso modesto parque, localizado entre a Igreja Matriz e a Praça Magalhães Barata. Era nosso palco de diversão. Todos os sábados, após a Missa das Crianças, era pra lá que corríamos. Depois de pular, girar, gritar, correr, íamos comprar guloseimas no Tio Dedê. O parque deu lugar a um prédio da Ação Social, hoje quem faz estripulias por lá são os idosos, e o Tio Dedê está vendendo bombons e caramelos para os anjos.

Andei em direção à minha casa. Continuei com o pensamento em Ourém, relembrando os momentos que marcaram a minha vida, ajudaram a formatar minha personalidade, permitiram ser quem eu sou. Posso percorrer por vários lugares, mas percorro consciente de que tenho minhas raízes fixadas em um lugar pequeno e aconchegante lá no interior do Pará. É de lá que eu venho. É de lá que eu sou.

Nesses 252 anos de história tenho apenas uma coisa a dizer: Ourém, como é grande o meu amor por você!


Aracaju (SE), 29 de maio de 2014.