terça-feira, 17 de novembro de 2009

O milionário

“Boa noite. Está começando o programa O Milionário”, anunciou o apresentador. Minhas pernas começaram a tremer como dois pés de bambu durante uma ventania. Disfarcei o nervosismo com um sorriso sereno. Aos poucos, fui ficando calmo. Minha atenção foi direcionada ao apresentador que caminhava em direção ao seu assistente de palco. Este tinha em suas mãos os envelopes com as perguntas que seriam feitas no programa.

Com envelope vermelho em sua mão direita, Marco Aurélio posicionou-se a minha frente. Um pequeno adesivo com a logomarca do programa fechava o invólucro. Ele retirou o aderente e pegou a ficha onde estava escrita a primeira pergunta da noite. Olhei em seus olhos buscando demonstrar confiança e esconder meu nervosismo. Olhando para mim, leu o quesito. Respondi e fechei os olhos. Os aplausos da platéia informaram meu acerto. Fiquei feliz.

Passei a mão sobre o bolso da minha camisa para sentir meu amuleto da sorte, um trevo de ferro, presente de um primo meu, carrego comigo desde os meus 15 anos. Enquanto isso, Marco Aurélio recebia de Felipe o envelope azul. Como eu tinha avançado para a segunda pergunta, o novo envelope era maior que o primeiro e estava fechado com dois adesivos, referindo-se a ordem das perguntas. Marco Aurélio leu a segunda pergunta, anunciou o tempo estimado para a resposta – 15 segundos – e acionou o cronômetro. Retirei o trevo do bolso e segurei entre minhas mãos. Respondi e resolvi encarar o telão. Em poucos segundos foi informado meu avanço a pergunta seguinte. Sorri e sussurrei:

- Agora só restam três envelopes.

Sabia que as perguntas seriam mais difíceis a partir daí.Minhas mãos começaram a ensopar de suor. Peguei um lenço no bolso da minha calça e as enxuguei. Nesse momento, Marco Aurélio fez o anúncio dos patrocinadores do programa e frisou que nenhum participante tinha conseguido passar da terceira pergunta. Com isso, o apresentador me deixava mais nervoso e apimentava o programa para manter os telespectadores frente à TV. As pessoas que estavam assistindo queriam ver se o jovem de 18 anos passaria pela pergunta do envelope verde. A cor da sobrecarta representa a esperança. Acertar a resposta garantiria a mim R$500 mil, isto é, a metade do valor total pago como prêmio pelo programa. A resposta errada era o passaporte de volta para casa com o bolso vazio. Marco Aurélio leu a pergunta pausadamente. Respondi sem pressa. Por alguns segundos ficou aquele clima de suspense, a produção do programa colocou uma musica ambiente. O suspense era preciso, o apresentar sempre frisava que nenhum participante tinha passado dessa fase do programa. Ele perguntou se eu queria desistir e respondi que não. Passado o clima de suspense, o telão anunciava minha façanha em acertar a pergunta do envelope da cor da esperança. Não me contive, gritei de felicidade e fui até a platéia abraçar meu primo, aquele que me presenteou o trevo da sorte.

Voltei ao palco do programa. Fui parabenizado por Marco Aurélio. Eu estava muito feliz com o acerto e Marco Aurélio pelo índice da audiência que subiu segundo informes de seu assistente de palco. Minhas pernas voltaram a tremer como no início do programa. As mãos não paravam de suar. Mesmo nervoso, respondi sim a Marco Aurélio quando ele perguntou se podíamos seguir com o programa. Ele abriu o envelope cinza. O papel brilhoso ressaltava os quatros pequenos adesivos que lacravam o invólucro. Precisava subir esse penúltimo degrau da escada que levava ao prêmio maior. Não conseguia me acalmar, fiquei embaraçado com a pergunta feita pelo apresentador, pedi que repetisse. Ouvi atentamente, gaguejei um pouco, mas consegui responder. Outra vez, preferi não olhar para o telão e fixei meus olhos na platéia. Quando todos se levantaram e aplaudiram, meu coração disparou, começou a bater rapidamente. Os aplausos era a confirmação, tinha chegado à fase final do programa.

“Isso é inédito”, exclamou Marco Aurélio. A façanha fez com que o apresentador anunciasse o intervalo comercial. Eu aproveitei e fui outra vez a platéia receber um abraço de meu primo. Tomei um pouco de água, enxuguei o suor e mostrei a ele o trevo da sorte. Recebi um abraço apertado do assistente de palco e um aperto de mão do apresentador. O programa voltou ao ar. Frente a frente com Marco Aurélio, observei em sua mão esquerda o envelope da cor das barras de ouro que seria entregue a mim, caso acertasse a resposta. Foi explicado que a pergunta nãos seria de múltipla escolha, teria que responder no tempo máximo de dez segundos. Todos na platéia ficaram em pé. O nervosismo de antes duplicou. Minhas pernas não paravam de tremer. Marco Aurélio abriu o envelope, explicou novamente a regra para resposta e, depois do suspense, fez a pergunta. Respondi com os olhos fechados. Ouvi o grito da platéia e sentir papel picado caindo sobre minha cabeça. Quando abri meus olhos, vi meu primo caminhando em minha direção, abraçou-me fortemente exclamando “você é milionário”.

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