domingo, 25 de outubro de 2009

Fim de tarde


Levantei, olhei pela última vez aquele espetáculo que chegava ao fim. Pus meus pés em meus chinelos brancos e caminhei ao encontro com as águas. A areia que cobria meus pés foi levada e embalada pelas ondas, que assim como eu, despediam-se de mais um dia de verão.

O vento forte que mais cedo espalhava as areias, agora era ameno e um pouco frio. Os pingos coloridos que subiam e desciam as ondas agora eram poucos. Os mais firmes continuavam a aventura do equilíbrio sobre as águas em movimento. Para estes, a ida do sol para o oriente não significava o fim da aventura, mas para outros sim, para a maioria.

Os corpos que mais cedo desfilavam com poucas roupas passaram a ser cobertos com panos maiores. Biquínis foram cobertos por camisolas e as sungas por bermudas e camisetas. O chinelo trocara de posição com a luva, a areia fria permitia aos pés dispensa-los. Os óculos escuros viraram enfeites na cabeça, sem o sol perderam sua função e, logo, ganhou outra. Isto é a criatividade humana.

Os boleiros tentaram aproveitar os últimos raios da claridade na busca do gol. A partida cronometrada pelo relógio é interrompida quando o rei dos astros dá o apito final. Ver a redonda no escuro é complicado.

Quando sol ainda emitia seus fortes raios e minha pele pedia protetor solar, eu entrei na água, mergulhei por alguns minutos, brinquei com as ondas, as desafiei e fui arrastado por elas. Ficamos nesse estica e puxa por um bom tempo. Nada mais ousado que desafiar o infinito. Infelizes aqueles que nunca tentaram, jamais poderão descobrir até onde vai à força humana.

Caminhando pela areia, deixei minhas marcas que em poucos instantes eram desfeitas pela maré. Ao longe avistei um pedaço de madeira. Restos de cordas e ferros atracados permitiam concluir que deveria ser de uma velha embarcação. Sentei e pude ver por trás dos coqueiros o sol preparando-se para viajar para o outro lado da terra. As palhas dos coqueiros balançavam em um ritmo sincronizado com o movimento do sol. As palhas refletiam o brilho dos raios. Era uma despedida, sem tristeza e lágrimas, ao contrário, era um show único onde às ondas do mar emitiam o som e as palhas dos coqueiros ditavam o ritmo da dança. Um conjunto perfeito, o encontro dos três elementos – mar, vento e sol – resultou nesse lindo fim de tarde.

“Cada dia é um dia roubado da morte” (Clarice Lispector)

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