terça-feira, 20 de outubro de 2009

Duas derrotas


Iniciada a última parte do programa, peguei os envelopes, caminhei em direção a Marco Aurélio e os entreguei. Como todas às vezes, sorri, mas confesso que pela primeira vez não fiz um sorriso falso perante as câmeras.

Nenhum participante tinha chegado a esta fase do programa. As manobras realizadas por Marco Aurélio impediam que qualquer participante chegasse à fase final. Nesse dia, tudo foi diferente.

Confesso que eu era obrigado a participar das falcatruas, afinal, não podia perder meu emprego, mas diferente de marco Aurélio, me sentia mal com cada manobra realizada. Nessa noite, percebi que podia fazer diferente. Podia evitar as manobras de Marco Aurélio, deixar de pactuar com suas fraudes, no entanto, tinha a certeza que estaria despedido. Eu não poderia aceitar mais essa situação, tinha remorso, já ele, ficava feliz com as tristezas e desespero das pessoas que iam a seu programa tentar ganhar o prêmio para mudar a vida.

Passei no corredor e vi que ele estava no camarim. Aproveitei para colocar meu plano em prática. Durante o intervalo comercial, substitui as perguntas selecionadas por mim e Marco Aurélio. Voltei para o estúdio sem deixar pistas. Eu estava um pouco nervoso, tomei água e sentei. Fiquei a espera de Marco Aurélio, a partir daquele momento ele enfrentaria dois adversários: o participante do programa e eu - nos bastidores.

Mesmo com o rosto maquiado, pude notar sinais de preocupação e nervosismo em Marcos Aurélio. O sorriso espontâneo desapareceu de sua face. Com as mãos, não parava de ajeitar o nó de sua gravata vermelha que contrastava com seu terno azul anil. Eu continuei agindo normalmente. Pelo fone de ouvido sugeri a Marco Aurélio que desafiasse o participante oferecendo a metade do prêmio para que ele desistisse do jogo. Assim ele fez, mas o participante não aceitou a proposta. Disse para que continuasse com o programa, voltei a sentar na poltrona a sua frente e fiquei olhando seu rosto no momento em que abriu o envelope. Assustado, passou a mão na cabeça desmanchando seu topete. Pelo fone de ouvido, perguntei se estava tudo bem. Minha pergunta foi ignorada. Eu olhei para ele e sorri em ver a situação em que coloquei Marco Aurélio. A pergunta foi lida e, em seguida, mostrada às câmeras como mandam as regras do jogo. Por um instante, a façanha de mostrar as perguntas às câmeras, após serem lidas, não foi um elemento favorável a ele. Em menos de dez segundos o participante respondeu corretamente.

O programa seguiu sem ninguém perceber o que estava acontecendo. Apenas Marco Aurélio sabia das trocas das perguntas, eu e ele cuidávamos dos envelopes. Continuei sentado na poltrona. Cruzei as pernas, retirei o fone do ouvido e pus sobre a mesa. Permaneci com os olhos fixados em Marco Aurélio. Tinha chegado a minha hora de torturá-lo com meu sorriso de deboche. Por um instante, passou em meus pensamentos lembranças das fraudes feitas, bem como, dos rostos tristes das pessoas que saiam do programa sem ganhar nada. Vi o suor escorrer pelo rosto de Marco Aurélio, quem o conhecia, notava que a firmeza de antes não o acompanhava mais. Eu, cumprindo meu serviço de assistente, fiz questão de entregá-lo o lenço de papel para que limpasse seu rosto suado. Afinal de contas, sua bela face não podia ficar brilhosa como seus belos sapatos pretos.

A forma séria como me olhou demonstrou ódio. Eu sabia que sua raiva era por saber que estava sendo trapaceado. O cara esperto e inteligente estava sendo enganado pelo seu simples assistente de palco, fiel escudeiro de suas trapaças. Eu apenas colocava em prática o que tinha aprendido com ele, meu grande mestre. O feitiço virou contra o feiticeiro.

Fiz o possível para que Marco Aurélio não manobrasse o jogo. Retirei tudo que tinha no bolso de seu paletó, inclusive sua caneta dourada da sorte. Ao colocar a mão no bolso, ele encontrou somente um bilhete onde escrevi “boa sorte”. Sem alternativa, o envelope final foi aberto. Eu mais uma vez emiti um sorriso cínico a Marco Aurélio, ele, descontrolado, deixou a pergunta cair no chão. Levantei da poltrona, juntei a ficha e de uma forma sutil fiz a pergunta ser captada pelas câmeras. Entreguei a ele a ficha, andei até a poltrona e me sentei.

O participante ganhou o prêmio de R$ 1 milhão. Eu saí do estúdio antes da entrega do prêmio. Fui caminhando pelas ruas, admirando a beleza da lua e do céu estrelado. Minha despedida do programa foi com sabor de vitória. Eu fiz Marco Aurélio sofrer duas derrotas nesta noite.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

20 anos sem o 'Rei do Baião'


No dia 02 de agosto de 1989, morreu um dos maiores ícones da música brasileira, Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”.

Gonzaga foi o criador de um gênero musical genuinamente brasileiro, o forró. Fez com a sanfona, o triangulo e a zabumba o ritmo que foi popularizado de norte a sul do país. Retratando, de uma forma simples e bela, o cotidiano do homem nordestino e de sua cultura. O Rei do Baião fez do forró o mais brasileiro de todos os ritmos.

As dificuldades vividas pelo povo nordestino, a simplicidade de vida e o orgulho pela sua terra são notórios nas letras, no ritmo, na dança, no chapéu de couro que são características únicas do pé-de-serra.

Nascido em Exu, interior de Pernambuco, Luiz Gonzaga era um homem simples, negro e matuto. Segundo ele, “um amarelo, bochudo, zambeta, cabeça de papagaio, feio pá peste”. Observando o pai animar bailes e consertar sanfonas, Gonzaga ganha intimidade com o instrumento que mudou sua vida ainda criança. No inicio, sua mãe Dona Santana não queria que o filho seguisse o caminho do pai, Seu Januário.

Quando jovem, em 1930, Gonzaga se alista ao exercito e ficou conhecido como “Bico de Aço” pela sua habilidade com a corneta. Em 1939, sai das forças armadas e vai para o Rio de Janeiro tentar a sorte como músico. Começou a cantar no “Mangue” (região do meretrício do Rio de Janeiro) como ele dizia. Tocou de tudo: choros, sambas, valsas, tangos e outros ritmos, porém, nenhum ritmo de sua região. Certa vez, foi questionado por um grupo de cearenses, por não tocar músicas nordestinas. Com o puxão de orelhas, as músicas de sua terra passaram a ser o carro chefe de sua carreira.

Dança da Mariquinha” foi a primeira música gravada enquanto cantor, em 1945. Nessa data, já tinha sido contratado pela Rádio Nacional depois do sucesso alcançado ao vencer, em 1941, o concurso no famoso programa de Ary Barroso com a música “Vira e Mexe”.

Seu maior sucesso, sem dúvida alguma, foi e continua sendo “Asa Branca”. Uma espécie de hino no nordeste, a música foi composta em parceira com Humberto Teixeira e gravada em 1947. A primeira lição do ABC nordestino é aprender a cantar “Asa Branca”. A letra fala do sertão, da seca e da esperança “da chuva cair de novo, pra mim voltar pro meu sertão”. Em parcerias com outros grandes compositores como Zé Dantas, Onildo Almeida e Zé Marcolino criaram lindas canções que até hoje são obrigatórias nos repertórios das grandes festas juninas que animam o nordeste.

Luiz Gonzaga e a Política
No que se refere à política, Gonzaga foi muito conservador. Apesar de suas composições retratarem a vida difícil do povo nordestino, como nas músicas “Asa Branca”, “Vozes da Seca”, “Ai seu Generá” e “Andarilho”, tinha horror aos políticos denominados de esquerda. Em sua passagem pelo exercito passou admirar os generais e, em 1964, declarou apoio à ditadura.

Gonzaga sempre era convidado para tocar nos saraus presidenciais e chegou a afirmar que “não havia tortura no Brasil”. Mas, foi vitima da própria ditadura, que o proibiu de cantar, em shows, as músicas “Vozes da Seca”, “Paulo Afonso” e “Asa Branca”.

Com o aumento das denuncias de tortura e mortes de vários ativistas, Gonzaga vai se desprendendo um pouco mais dos governantes e compõe com Humberto Teixeira “Salmo dos Aflitos”. No governo Geisel, em 1978, no seu disco “Dengo Maior”, a música foi incluída. Em 1980, gravou “Pra não dizer que falei das flores” de Geraldo Vandré.

Gonzagão e Gonzaguinha
Muitos se decepcionavam com a posição política de Luiz Gonzaga, incluindo seu filho Gonzaguinha. Durante anos, pai e filho tiveram um relacionamento difícil e distante. Somente, em 1981, os dois fizeram as pazes e proporcionam um grande momento histórico da música popular brasileira com a turnê “Vida de Viajante”, registrada no disco “Descanso em casa, moro no mundo”.

O Rei do Baião continua vivo
Em sua trajetória, Gonzaga dividiu o palco com grandes artistas como: Gal Costa, Sivuca, Elba Ramalho, Carmélia Alves, Marinês, Nélson Gonçalves, Dominguinhos, Oswaldinho do Arcodeon, Genival Lacerda e Fagner.

Entre suas centenas músicas gravadas algumas são obrigatórias em qualquer coletânea do cantor: Nem se Despediu de Mim, Sanfoninha Choradeira, ABC do Sertão, Xote das Meninas, Samarica Parteira, Qui nem Jiló, No meu Pé-de-Serra, Numa Sala de Reboco, Súplica Cearense, Juazeiro, Assum Preto, Vozes da Seca, Aproveita Gente, Feira de Caruaru, Riacho do Navio, Respeita Januário, Forró nº. 1, Cheiro de Karolina, Baião, Olha pro Céu, Triste Partida, A volta da Asa Branca, Paraíba, Forró de Cabo a Rabo, Cintura Fina e Pagode Russo.

Luiz Gonzaga continua vivo entre nós. Suas canções continuam animando festas juninas país afora. Não há festa de São João sem Gonzagão.
Os 20 anos da morte do “Rei do Baião” não silenciaram a sua sanfona.

sábado, 1 de agosto de 2009

Santa Chuva

Lembro perfeitamente dos meus olhos acompanhando a descida do barquinho de papel na correnteza formada pelas águas da chuva. Fazíamos dezenas deles. Todos seguiam o mesmo rumo, correnteza abaixo. Foram feitos para isso. Porém, quando soltávamos, nossos olhos acompanhavam o movimento de descida como se não quiséssemos que partissem ou como se estivéssemos atentos para que a descida fosse perfeita, pois, sempre ocorriam pequenos atropelos pelo percurso. Seguíamos até o encontro das águas com as tubulações. Voltávamos e soltávamos outro e, assim, repetíamos até acabar os brinquedos, feitos com restos de jornais e revistas, produzidos naquela tarde chuvosa.

Água, muita água. Corríamos às biqueiras das casas. A água caia com força em nossas cabeças. O revezamento era feito e todos passavam por debaixo delas. A disputa era pelas mais altas. Quem chegava primeiro comandava a área e quem chegava por último era a mulher do padre.

A chuva permitia que a criatividade invadisse nossas mentes. Construíamos, com muita areia e pedaços de pau, grandes represas. Éramos verdadeiros engenheiros construindo barragens. A descida da água era controlada por nós. Na verdade, controlávamos até quando a água queria, muitas vezes, ela se rebelava e impunha sua força passando por cima da nossa construção. Fazíamos tudo de novo, com mais areia e mais pedaços de pau. Momentaneamente, controlávamos a força da natureza.

Chuva forte combinava com manga no chão. Corríamos ao quintal da minha casa, ao da minha tia e dos vizinhos. A chuva permitia por um instante a propriedade comunal das terras e das frutas. Para nós eram comunais, para seus donos, não. Mas a aventura não tinha limites. Muros, cercas e cachorros eram superados. Nada que um bom trabalho em equipe não resolvesse. Comíamos as mangas, muitas vezes, rindo dos obstáculos que superamos para apanhá-las. Acho que os sacrifícios às tornavam mais saborosas.

Nem sempre aproveitei a chuva dessa maneira. Muitas vezes, fiquei em casa, deitado, embrulhado em um bom lençol grosso, ouvindo o barulho nas telhas e sentindo seus respingos. O som emitido era uma verdadeira sinfonia onde as notas musicais não podiam ser decifradas, só ouvidas e guardadas na mente. Era um som que embalava sonos e sonhos profundos. Chuva, som, sono e sonho.

Os raios e trovões, chuva ou outra, davam o ar da graça. Por trás das arvores, podíamos ver o lindo clarão de luz e ao longe seu estrondo. A fé cristã entrava em cena. Jogávamos no chão do quintal a palha abençoada pelo padre no Domingo de Ramos. Minha mãe dizia que era para proteger nossa casa de um raio. Mas, eu ficava olhando o lindo clarão dos raios e em meu olhar inocente enxergava mais beleza que perigo. Raios, trovões, clarões.

Sinto saudades dos banhos nas chuvas da minha Amazônia. Dos barquinhos de papel, das biqueiras, das represas de areia, das mangas expropriadas e da velha palha abençoada. No Pará é assim, sempre chuva, santa chuva.



“vai chover
de novo
deu na Tevê”
(Marcelo Camelo)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Meu primeiro encontro com amor

Ainda era madrugada. Nem sei se dormi. A espera deixou-me ansioso. Imaginações tomaram conta da minha mente. Por um instante, acho que dormi acordado. 

Quando ouvi aquela voz dizendo “vamos nos arrumar”, não teve muito significado para mim, pois eu já estava arrumado. A minha noite foi dedicada somente a isso, preparar o dia seguinte. 

Pegamos a estrada, 3h da manhã, em um dia das férias de julho de 1989. A cada instante que passava, mas ansioso ficava, mais imaginações vinham à cabeça. Enfim, chegamos à Salinopólis, litoral paraense, às 6h. O nascer do sol revelava aos meus olhos um espetáculo nunca visto, inédito a íris e às pupilas dos meus olhos. Meu encontro com Atlântico, depois de muita ânsia e imaginações, aconteceu. Ele era muito maior e muito mais salgado do que esperava.

O carro mal parou, eu saí correndo ao seu encontro. Quanto mais me aproximava, menor eu ficava. Mas não tive medo. Lancei-me ao mar por inteiro. Senti a força de suas ondas e o sabor de suas águas, literalmente, pois lembro muito bem que engoli uma boa quantidade. Minutos depois, estávamos numa boa. Quem olhava poderia achar que éramos velhos amigos. Já não me sentia pequeno perto dele, bem como, não tomei mais suas águas. Agora, eu já me sentia parte do seu contexto. Eu não era somente mais um banhista, mas sim um descobridor dos sete mares, sendo que essa era a minha primeira descoberta.

Percorri sua extensão em sentido norte e seu oposto. Procurei e encontrei lugares para conversar a sós com meu novo amigo, falar alguns segredos, bem como ouvir, nas conchas, os seus. Brincamos de escrever nossos nomes na areia. Eu escrevia e ele apagava. Assim ficamos boa parte do tempo. Construímos castelos, depois os desmoronamos, era parte da brincadeira. Construir e destruir. Assim, como as ondas vêm e voltam. Assim, como eu, fui, mas tinha que voltar.

17h. Nosso primeiro encontro chegava ao fim. O sol que nasceu às 6h, brilhou o dia todo, proporcionava mais um espetáculo caminhando ao oriente. Anunciava a hora da despedida. Novamente, escrevi meu nome na areia para ser levado pelas ondas e pedi ao meu amigo que o deixasse guardado em seu caderno de anotações. Acredito que assim ele fez, pois onde encontro meu querido amigo Atlântico, sou muito bem recebido em suas areias encharcadas pelas águas salgadas que lá no fundo tem um sabor especial. Seu abraço vem em forma de uma onda, grande ou pequena, mas com certeza aconchegante. Esse é o mar de tantas histórias. Passou a fazer da minha vida, nesse julho de 1989 e até hoje não nos separamos. Somos velhos e grandes amigos.

E, como afirma Caymmi, “o mar quando quebra na praia, é bonito, é bonito”.

Assista o vídeo de Caymmi cantando a música "O mar".

domingo, 19 de julho de 2009

No parque de diversões

O amor aparace...


...em meio à diversão...


...em meio aos brinquedos...


...em meio à sorte...


...e na fantasia de subir e girar
em torno de sí mesmo.


By Roberto Aguiar
Carmopólis/SE
Sexta, 17 de julho de 2009.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Feira de Caruaru

A diversidade da cultura nordestina reunida em um só lugar

Quando alguém ou algum meio de comunicação fala sobre Caruaru/PE é sempre se referindo à cidade do maior festejo junino do nordeste brasileiro. È certo, também, que esse título é disputado com Campinha Grande/PB e Aracaju/SE. Mas, não será sobre esse assunto que iremos tratar aqui. A capital do agreste nos reserva outra façanha, reúne em um só lugar a diversidade da cultura nordestina, na Feira de Caruaru.

Artesanato, ervas, cordel e até produtos importados. De tudo se encontra. Como canta Luiz Gonzaga, na música A feira de Caruaru (poeta Onildo Almeida), “tudo o que há no mundo, nela tem para se vender”. A feira é reunião de um conjunto de outras feiras, em torno de 15, que juntas formam a feira-mãe, um grande caldeirão cultural.

A mais importante feira do interior do nordeste, iniciou-se ainda no século 17, em uma antiga fazenda onde os viajantes paravam para se abastecer num poço. Hoje, a feira funciona na parte central da cidade, no Parque 18 de maio, sendo que até 1992, funcionava no Largo da Igreja da Conceição.

O movimento acontece em todos os dias da semana. A feira de artesanato nunca é desmontada. Já a feira do troca-troca, onde nada se vende, tudo se troca (bicicleta, rádio, celular e outros produtos) acontece aos sábados. A partir da terça-feira, é montada a Feira da Sulanca, popularmente chamada, “Feira do Paraguai”, já que os produtos importados são aí negociados. A feira de ervas apresenta a medicina alternativa com seus remédios populares, uma tradição herdada dos antepassados.

A Feira de Caruaru é um grande baú encantado. É como uma cartola de um mágico, várias surpresas aparecem em um passe de mágica. São mais de dois quilômetros de ruas ocupadas. Centenas de barracas coloridas vendendo uma diversidade de produtos. Chapéus de palha, de couro e tecido, cestas, objetos de barro e cerâmica, brinquedos populares, gaiolas, estilingue, roupas, calçados, bolsas, panelas e outros utensílios para cozinha, móveis, animais, ferragens, miudezas, rádios, artigos eletrônicos importados e muitos outros. No caldeirão cultural, conjuntos musicais e bandas de pífanos se apresentam fazendo uma mistura entre o comércio, a festa e a arte. Cegos tocam sanfona, violeiros e cantadores lançam seus desafios e os vendedores de literatura de cordel anunciam através de um alto-falante as proezas dos cangaceiros.

No ano de 2008, a Feira de Caruaru foi tombada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). A feira que permitiu que a venda da poesia popular, pendurada em cordões, recebe-se o nome de literatura de cordel, hoje, é um patrimônio de todos nós.

Caruaru está localizada a 130 km de Recife. É uma cidade ícone da cultura popular nordestina. Com certeza, conhecer Caruaru é uma boa pedida.

Fotos


terça-feira, 30 de junho de 2009

Uma viagem musical


Aquele botão vermelho tem horário certo para ser apertado. Todas as noites, depois do jantar, lá pelas 20h, ele pega a extensão branca, de mais ou menos três metros, liga na tomada localizada no pátio e a estende até a calçada. Volta, pega sua cadeira preguiçosa de pano xadrez e seu parceiro prateado. Senta e o liga. O botão vermelho foi acionado, a estação é sempre a mesma. Assim, começa a viagem musical de um Senhor de 70 anos.

O parograma que rola na rádio só toca as músicas do passado. Aquelas que são tiradas lá do fundo do baú. Nessa rádio, há uma particularidade, toca muitas músicas regionais, músicas da terra, onde os artistas locais têm seu espaço reservado. O programa é literalmente, uma volta ao passado.

A concentração com o que rola na rádio é visível na face do ouvinte. Vira e mexe ele fala sozinho. Como se estivesse sussurrando algumas de suas lembranças que veio à mente. Quando eu estava por lá, procurava observá-lo e algumas vezes, cheguei a compartilhar desse momento.

Pelo fato de está sentado na calçada, em frente a sua casa, é natural que sua esposa, filhos, netos e vizinhos, às vezes, formem uma roda de conversa à sua proximidade. Nem mesmo isso atrapalha a sua concentração. Sua viagem com a música segue naturalmente.

Eu ficava observando. Acho que ele nunca percebia isso. Não gostava de interrompê-lo. O que notei é que esse horário é muito importante para esse Senhor. É tão importante que ele continua cumprindo sua rotina religiosamente todas as noites.

É uma pena que não posso mais observa-lo com mais freqüência. A distância tem impedido isso. Hoje, na verdade, sempre que posso, interrompo sua viagem musical quando peço para que a mamãe o chame para falar comigo ao telefone. Por alguns minutos, o programa de rádio divide a atenção desse Senhor comigo.

Antes das 22h, o movimento inverso é realizado. O botão vermelho é mais uma vez acionado. O rádio foi desligado e a viagem musical do meu Pai chegou ao fim.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O valor da amizade

Tomar banho, jantar e ir ao encontro com os amigos. Era assim a rotina de todos os adolescentes que moravam naquele quarteirão.
Algumas noites íamos à praça do centro da cidade, mas não era esse nosso programa favorito. Curtíamos nosso bairro. Então, nossos programas noturnos aconteciam por lá mesmo, em especial, na nossa própria rua, em nosso quarteirão.

O ponto de encontro era o disputado banco de madeira localizado à frente da casa de uma vizinha. Nele cabiam exatamente três pessoas. A disputa por uma vaga era ferrenha.

Um a um, a molecada ia chegando. Em torno ao banco, formava-se uma roda. Uns pegavam cadeiras nas suas casas, outros sentavam no chão sobre suas sandálias. O importante era entrar na roda.

Meninos e meninas estavam todas as noites no famoso banco. Muitas conversas, discussões, algumas brigas, fofocas e armações. De tudo um pouco por lá se passou. Antes de iniciarmos qualquer brincadeira ou aventura era debatido no banco, ou melhor, na roda. Muitas vezes, nem saímos dele. Ficávamos lá conversando. Alguns adultos entravam na roda e, vez e outra, rolava até um cafezinho com aquele delicioso bolo de macaxeira que a mãe do nosso amigo preparava, diga-se de passagem, a dona do banco. Dona no sentido formal já que ficava em frente a sua casa, mas era nosso por utilidade.

O banco recebia nossos cuidados. Sempre estávamos revitalizando-o com madeiras novas. Esse serviço era feito por nós mesmo. Por incrível que pareça, nas reformas que fizemos, nunca aumentamos seu tamanho. Sua medida era exatamente para três pessoas normais, digo, não obesas. A energia do banco vinha justamente do seu tamanho. Era mais que ponto de encontro, era a peça inicial da roda que se formava. Aumentar seu tamanho significava acabar com a roda, ou seja, dar fim ao que mais tinha de bonito entre nós adolescentes daquele quarteirão, a coletividade.

Os adolescentes cresceram. Caminhos diferentes foram construídos. Mas, nossas amizades estão até hoje ligadas pela ciranda construída em torno ao simples banco de madeira. Infelizmente, hoje não há mais aquele banco e nenhum outro foi posto em seu lugar. Os atuais adolescentes que vivem nesse quarteirão precisam construir um ponto de encontro para descobrir o valor da amizade.

Quadrilha Tatu na Roça: tradição, alegria e irreverência

Os valores da modernidade ainda não conseguiram abalar o brilho da festa de São João, pelo menos para aqueles que participam da quadrilha Tatu na Roça. Alegria, irreverência e, acima de tudo, a tradição são as características daqueles que fazem das ruas de Aracaju o palco da festa.

A festa é totalmente financiada pelos seus brincantes e entidades dos movimentos sociais. A quadrilha leva para as ruas a alegria de brincar o São João acompanhado de um tema político. Esse ano o tema foi à campanha “O petróleo tem que ser nosso. Por uma Petrobras 100% estatal”. O Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro) e a Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas) foram mais uma vez grandes apoiadores dessa tradicional festa.

São 23 anos de tradição. Mais de 200 brincantes percorrem as ruas de Aracaju em carroças enfeitadas. Homens vestidos de mulheres e mulheres vestidos de homens formam personagem para lá de irreverentes. Sem esquecer o tradicional casal caipira que durante o percurso realizam o casamento na roça. Em alguns pontos as carroças são paradas, os brincantes improvisam a quadrilha e o arrasta pé começa.

Por onde passa, a quadrilha ganha os aplausos e a simpatia da população. As calçadas são tomadas por moradores que brincam com a quadrilha e seus personagens. Fotos, filmagens, beijos, sorrisos, oferecimentos de comidas e bebidas, fogos de artifícios e aplausos. Foliões da quadrilha e seus admiradores fazem uma só festa, uma só homenagem a São João.

Eu não poderia ficar fora dessa festa. Impossível. Há 3 anos participo com muita alegria. Quem vê se encanta e quem participa descobre o verdadeiro significado da maior comemoração da cultura popular nordestina.

É São João. Parabéns à Quadrilha Tatu na Roça. A cada ano que passa a tradição é mantida e a independência da festa é quem garante esse lindo resultado. Mais uma vez, parabéns.


IndicaçõesQuem quiser conhecer melhor a Quadrilha Tatu na Roça basta acessar o site: http://www.tatunaroca.com/. Veja a história, fotos e o percurso da quadrilha. Dê uma espiadinha.

LinksMatérias que saíram nos telejornais locais. Veja a animação da Quadrilha Tatu na Roça:
TV Atalaia: http://www.atalaiaagora.com.br/galeria_video.php?v=1354

TV Sergipe:
http://emsergipe.globo.com/multimidia/busca.asp?modo=jornaldia&chave=setv2&data1=20090624&data2=20090624


Fotos
Algumas fotos da tradicional festa. Êita que a folia foi boa.

Foto 1 - Trio com a faixa da Quadrilha e da Campanha - Petrobras 100% estatal


Foto 2 - Eu e Fernando

Foto 3 -Valéria, Raquel, Zeza e Tati


Foto 4 - Ativistas do Sindicato dos Petroleiros e da Conlutas


Foto 5 - Cortejo das carroças

sábado, 13 de junho de 2009

Primeira produção

Vídeo produzido como trabalho da disciplina Introdução à Comunicação.
Eu, João, Mari, Victor, Délio e Nicelma fomos os grandes produtores desse trabalho. Nossa ida ao Batistão está retratada em 5 minutos.
Foi tudo de bom. Isso foi apenas o começo.
Flw

"Não sabendo que era impossível, fui lá e fiz"