quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Desassossego


Quando Fernando Pessoa estava escrevendo as pequenas prosas para o Livro do Desassossego não estava buscando falar sobre si, sobre o que ele era. Estava tentando decifrar o que ele não foi.

Falar o que o somos e o que vivemos é muito mais fácil. Basta apenas exercitar a mente lembrando o ocorrido, voltando ao passado. Falar sobre o que não fomos e queríamos ser é mais difícil. Exige criatividade. É preciso inventar o não ocorrido. Construir seqüências de fatos não executados. Criar cenas não realizadas, apenas desejadas.

Escrever aquilo que queríamos ser, pode passar a impressão de que é mais prazeroso. Afinal, vamos estar registrando em palavras os devaneios que circulam em nossa mente. Estaremos colocando no papel um projeto de vida que pensamos e desejamos. Depois de escrito, ao ler o desejado sentiremos uma dor, pois a vida que temos não é aquela que inventamos.

A realidade, por mais dura que seja, precisa ser encarada de frente. Não necessariamente precisamos descrevê-la de uma forma fria, seca, áspera.  A realidade também tem seu lado literário. O cotidiano pode ser expresso por um ponto de vista mais simples e ao mesmo tempo rico. A realidade, diferente do desejo e do sonho que permite a gente voar pelas nuvens, exige, unicamente, que estejamos com os pés no chão. Por uma questão de segurança, claro. Afinal, o chão é mais firme que o céu.

Sertão do Rio Grande do Norte
16.02.2013

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