terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Meu programa de TV favorito

Era uma quarta-feira, dia ensolarado, trânsito congestionado, um vai e vem de pessoas nas ruas. Em meio a esse agito, ainda a caminho do trabalho, recebi pelo celular uma mensagem do meu patrão. Estava convocando todos os gerentes setoriais para uma reunião às 20h. Fiquei mais chateado ainda, não bastava o caos no trânsito. Depois que li a mensagem, reclamei:

- Putz, logo hoje! Justo no horário do meu programa de TV favorito. Isso não poder ser verdade.

Deixei minha esposa no consultório médico e meus dois filhos na escola. Segui meu caminho, rumo à empresa. Logo que cheguei, fui notificado via oficio circular sobre a reunião de balanço das vendas no primeiro semestre.

Passei o resto do dia preparando relatório e buscando encontrar uma boa desculpa para não comparecer na reunião. Preferia ficar resfriado de uma hora para outra, só assim ficaria em casa assistindo “O milionário”. Desde adolescente, tenho por hábito assistir programas de TV que testam o conhecimento dos participantes. Fico em frente à TV tentando responder as perguntas como se fosse eu o interrogado. No mês passado, durante as férias escolares de meus filhos, eu e eminha esposa transformamos a sala da nossa casa no palco do programa “O milionário”. Com as cadeiras, organizamos o espaço destinado à platéia. Uma das paredes foi coberta por um grande papel cinza estampado com a logomarca do programa. A cor do papel realçou as letras vermelhas e a imagem da moeda dourada que substituía o último “o” da palavra milionário. A decoração ficou durante todo o mês das férias. Divertimos-nos muito, as crianças adoraram. Confesso que também adorei a brincadeira.

Todas as quartas-feiras, assisto o programa acompanhado de minha esposa e meus filhos. Reservo esse dia da semana para ficar mais perto deles, pois durante os outros dias chego tarde do trabalho. É um compromisso que gosto de cumprir, tanto que durante esse ano não tínhamos falhado em nenhuma quarta-feira. Mas eu estava com muita dúvida, sou gerente de um dos setores mais importante da empresa e deveria participar da reunião. É certo que a reunião não tinha uma platéia animada e entusiasmada, nem tão pouco seria em uma sala colorida, nosso relatório não eram apresentados em um painel eletrônico e o presidente da empresa não era sorridente como o apresentador do programa “O milionário”. Só emitiria um sorriso no final da reunião caso os balancetes apontassem um crescimento no lucro, valor que não seria dividido com a gente.

No final da tarde, quando eu estava fechando os últimos relatórios, minha esposa telefonou e pediu que eu levasse pizza para comermos na hora do programa. Confirmei que compraria. Não falei nada sobre a reunião. Conclui os relatórios e fui deixá-los na secretaria para que as cópias fossem reproduzidas para todos os membros da reunião. Fiquei sabendo que a reunião seria naquele dia porque o patrão viajaria a passeio com a sua família na sexta-feira. Foi então que decidi que não deixaria de cumprir meu compromisso com a minha família para garantir que o meu patrão honrasse o seu com a sua.

Voltei para minha sala, liguei para a pizzaria, encomendei duas pizzas tamanho família e fui para minha casa. Tomei um banho para relaxar, liguei a TV, sentei na minha poltrona. Minha esposa e meus filhos também vieram para sala, o nosso ritual de todas as quartas-feiras estava começando. O programa iniciou pontualmente, o auditório estava lotado como em todas as noites. Na primeira fila, estavam os familiares e amigos do participante, um jovem de 18 anos. Seu rosto um pouco assustado aparecia no telão enquanto o apresentador falava seu nome e a sua cidade de origem.

O confronto estava começando, ao centro, num pequeno balcão de vidro estavam cara a cara o desafiador e o desafiado. Eu inquieto esperava a primeira pergunta como se fosse o participante. Sofria com cada suspense feito pelo apresentador e a cada resposta emitida pelo jovem. Foi o programa mais emocionante que assisti. Pela primeira vez alguém faturou o prêmio de R$1 milhão. As barras de ouro que estavam em um painel de vidro agora pertenciam a um jovem de 18 anos. Com certeza sua vida não seria mais a mesma a partir daquela noite. Eu estava muito feliz pela sua vitória e por ter vivido mais esse momento ao lado das pessoas mais importantes da minha vida: minha esposa e meus filhos. Com certeza, eu tive um bom motivo para não ter ido à reunião.

Nenhum comentário:

Postar um comentário