segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

"Hoje tem espetáculo?"


O sol radiante daquelas manhãs abrilhantava a nossa festa. Era o momento da diversão, o instante em que o símbolo da alegria estava próximo ao seu público convidando a todos para o espetáculo. O palhaço perguntava:

- Hoje tem espetáculo?

Eu e outras dezenas de crianças que o seguia respondíamos uniformemente:

- Tem sim Senhor.

- Tem o globo da morte?

- Tem sim Senhor.

- Tem palhaço, equilibrista e o mágico?

- Tem sim Senhor.

Várias outras perguntas eram feitas. Todas respondidas com entusiasmo. O artista circense, em agradecimento a nossa animação, jogava para o ar cortesias e a rua que era o palco do desfile, por um instante, tornava-se o palco da disputa pelo precioso prêmio.

O sol não era incômodo. O palhaço continuava andando com suas pernas de pau, muitas outras crianças seguiam seus passos, as vozes aumentavam e a disputa pela cortesia também. Conseguir a cortesia nunca foi o fim por si mesmo. Ao contrário, o bom da festa pelas ruas era nossos risos, nossa euforia.

Encontrávamos forças para seguir caminhando, cantando e gritando com o palhaço. Nós participávamos da animação como verdadeiros protagonistas e não como meros espectadores. Havia uma ligação necessária entre nós e o palhaço. Precisamos dele para fazer de nossas manhãs uma festa pelas ruas da cidade e, ele precisava da nossa participação para o sucesso do circo. Somente hoje percebemos esse jogo de dependência, no momento tudo era uma grande alegria.

- Vou ali e volto já. Dizia o palhaço.

- Vou chupar maracujá. Respondíamos.

- Vou ali e volto cedo.

- Vou chupar limão azedo.

E assim percorríamos as ruas, asfaltadas ou não. Era uma manhã de festa ao ar livre. Um palhaço com suas pernas de pau seguido por dezenas de crianças com suas pernas de osso. Parafraseando Paulinho da Viola, “foi um circo que passou em minha vida”.

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