quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A escrita e a angústia

A sua escrita existencialista revela uma pessoa que busca explicações sobre quem e o que somos, o que fazemos, para onde vamos, o que e quem nos move. Perguntas pequenas que exigem grandes respostas. Respostas nada impossíveis de serem alcançadas por um jovem que se auto-define do tamanho da soma de tudo aquilo que absorve.

Nunca ouvi sua voz. Mas li e senti suas palavras carregadas de um brilho semelhante ao alargador prateado enfiado em sua pequena orelha. As palavras são sua voz, mas sem som. Isso não importa, apesar de ter uma paixão pelas palavras faladas, as suas permitem ouvir uma voz, pode até não ser sua voz, pode ser a voz da palavra.

Blog, diário e livros. Três coisas importantes na vida de um jovem estudante de Letras, da Universidade Federal de Alagoas [UFAL], que trabalha e anda em ônibus lotado como eu. Apesar de sermos separados geograficamente pelo Rio São Francisco, a história construiu uma ponte que os une. Nesse caso, o amor pela palavra – escrita, falada, cantada. Eu cursando Comunicação Social/Jornalismo na Universidade Federal de Sergipe [UFS], ele Letras na UFAL, fomos entrelaçados pela busca de palavras a serem lidas, consumidas, saboreadas, interpretadas e reescritas.

Fomos presos em celas diferentes, no presídio chamado palavras. O alagoano tem Clarice Lispector e Alice Ruiz como parceiras de cela. Machado de Assis e Truman Capote são os meus. Isso não quer dizer que não tenhamos outros amigos, nada disso. Mas a gente sempre tem aquele amigo com quem dividimos nossos segredos mais íntimos. Vira e mexe brincamos de trocar de amigos, mas só por alguns dias. No dia livre, onde todos os presidiários concentram-se no enorme pátio de cores azuis, rodeado de bancos de cimento coberto com uma tinta amarela, vira uma grande feira literária. É um troca-troca de livros, rodas de conversas, debates e mesas de discussão. Um dia de festa que inicia ás 8h e termina ao pôr do sol. Ao voltar para cela, sempre vamos de mãos dadas com os novos amigos que adquirimos durante a feira e com os olhos cheios de lágrimas ao ver velhos amigos irem embora. Uns para sempre, outros por apenas alguns dias, até a próxima feira que rola todas as sextas-feiras.

Como eu e o alagoano estamos em selas vizinhas, nossas conversas e debates são permanentes. Tá aí um vizinho que quero para sempre ao meu lado, apesar de seu existencialismo “meio doentio” que reflete em seu escrita e em sua angústia. Nada que uma dose de Rubem Braga não contorne a situação.   

Um comentário:

  1. e até hoje ninguém tinha conseguido me ver através do silêncio que tem uma palavra. VOCÊ SIM. E eu estou vibrando por isso.
    Obrigado demais.

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