Ainda
era madrugada. Nem sei se dormi. A espera deixou-me ansioso. Imaginações
tomaram conta da minha mente. Por um instante, acho que dormi acordado.
Quando
ouvi aquela voz dizendo “vamos nos arrumar”, não teve muito significado para
mim, pois eu já estava arrumado. A minha noite foi dedicada somente a isso,
preparar o dia seguinte.
Pegamos
a estrada, 3h da manhã, em um dia das férias de julho de 1989. A cada instante
que passava, mas ansioso ficava, mais imaginações vinham à cabeça. Enfim,
chegamos à Salinopólis, litoral paraense, às 6h. O nascer do sol revelava aos
meus olhos um espetáculo nunca visto, inédito a íris e às pupilas dos meus
olhos. Meu encontro com Atlântico, depois de muita ânsia e imaginações,
aconteceu. Ele era muito maior e muito mais salgado do que esperava.
O
carro mal parou, eu saí correndo ao seu encontro. Quanto mais me aproximava,
menor eu ficava. Mas não tive medo. Lancei-me ao mar por inteiro. Senti a força
de suas ondas e o sabor de suas águas, literalmente, pois lembro muito bem que
engoli uma boa quantidade. Minutos depois, estávamos numa boa. Quem
olhava poderia achar que éramos velhos amigos. Já não me sentia pequeno perto
dele, bem como, não tomei mais suas águas. Agora, eu já me sentia parte do seu
contexto. Eu não era somente mais um banhista, mas sim um descobridor dos sete
mares, sendo que essa era a minha primeira descoberta.
Percorri sua extensão em sentido norte e seu oposto. Procurei e encontrei lugares para conversar a sós com meu novo amigo, falar alguns segredos, bem como ouvir, nas conchas, os seus. Brincamos de escrever nossos nomes na areia. Eu escrevia e ele apagava. Assim ficamos boa parte do tempo. Construímos castelos, depois os desmoronamos, era parte da brincadeira. Construir e destruir. Assim, como as ondas vêm e voltam. Assim, como eu, fui, mas tinha que voltar.
17h. Nosso primeiro encontro chegava ao fim. O sol que nasceu às 6h, brilhou o dia todo, proporcionava mais um espetáculo caminhando ao oriente. Anunciava a hora da despedida. Novamente, escrevi meu nome na areia para ser levado pelas ondas e pedi ao meu amigo que o deixasse guardado em seu caderno de anotações. Acredito que assim ele fez, pois onde encontro meu querido amigo Atlântico, sou muito bem recebido em suas areias encharcadas pelas águas salgadas que lá no fundo tem um sabor especial. Seu abraço vem em forma de uma onda, grande ou pequena, mas com certeza aconchegante. Esse é o mar de tantas histórias. Passou a fazer da minha vida, nesse julho de 1989 e até hoje não nos separamos. Somos velhos e grandes amigos.
E, como afirma Caymmi, “o mar quando quebra na praia, é bonito, é bonito”.
Assista o vídeo de Caymmi cantando a música "O mar".
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir"Brincamos de escrever nossos nomes na areia. Eu escrevia e ele apagava."
ResponderExcluirmaravilha isso... =)
ps.: te xingava se no final num viesse esse verso, fôrma, te xingava!
kkkkkkkkkkkk
abração!
Explendido!
ResponderExcluirAmei!