E lá vem ele, como em todos os sábados à tarde, anunciando em gritos fortes a sua venda. Da janela do meu quarto, entres as folhas das arvores, podia ver ao longe seu avental engomado, onde o branco contrastava com a cor de sua pele. Sem buzina ou outro instrumento que emitisse som, era com seus gritos fortes que ganhava atenção dos moradores. O anuncio atraia seus fregueses, que assim com eu, iam à janela e pediam para que esperasse, enquanto descia as escadas do prédio pensava qual sabor comprar.
Entre cada iguaria vendida fazia uma brincadeira com seus fregueses, sem perder o respeito e a simpatia. Seu sorriso era permanente. Não me lembro um sábado se quer que o visse sem esse semblante de alegria. Nem mesmo o dia em que um freguês derramou leite condensado em seu avental, ele tirou o sorriso do rosto. Ele deveria ficar um pouco bravo, pois afinal de contas, nunca tinha visto um sujo em seu avental. Vestia-se bem, estava sempre limpo e engomado. Do chinelo à boina branca que usava na cabeça, tudo era simples, mas era limpo e bem cuidado.
O avental destacava-se não somente pelo branco alvo, mas pelo seu bolso vermelho, lugar onde ele guardava seu dinheiro. O bolso era vermelho justamente para que o dinheiro não transparecesse. Nesse bolso guardava o dinheiro trocado, no bolso de sua calça guardava as notas de valores maiores, segundo ele por uma questão de segurança. E ele estava certo, pois seu físico estava mais para o Salsicha do que para o Popeye.
Além dos seus 1,85m de altura, o que chamava atenção era sua chinela de couro, não pelo modelo, mas pelo seu desgaste das longas caminhadas que percorria, carregando nos braços seu tabuleiro. A preferência por uma chinela de couro revelava sua origem nordestina, já seu sotaque nem tanto, assim como nós paraense falava “égua” em toda e qualquer situação. Já era tão paraense que o seu time do coração estava estampado na cor de seu tabuleiro. O azul celeste confirmava que ele era torcedor do Payssandu. Eu, uma vez, perguntei por que ele tinha pintado só de azul celeste, já que a cor do seu time de coração também era o branco. Ele respondeu dizendo que economizou tinta, pois as tapiocas completavam a outra cor da bandeira bicolor.
Belíssima história amigo. Mais uma vez, parabéns! Criatividade é o que há de mais sofisticado em você!
ResponderExcluirForte abraço!